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Compondo uma Rapsódia Armênia

por Adolfo Caboclo, 17 de setembro de 2013
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O diretor Gary Gananian

O diretor Gary Gananian

Alguns anos atrás, em terras universitárias, a vida social ganhava forma em um roteiro entre a sala de aula e a mesa do bar. Existiam fases em que uma dessas extremidades de mundo era mais aconchegante e fases em que a outra extremidade lampejava de forma irresistível. Entre esses extremos de realidade também existiam os meios termos: palestras, engajamentos políticos, jogos universitários e, no coração do diretório acadêmico, a sinuca. Foi na sinuca que conheci algumas figuras interessantíssimas. Curioso que, apesar de se tratar de uma faculdade de propaganda, não me lembro de algum fato publicitário que já tenha virado assunto na sempre lotada e pulsante mesa de sinuca. De fato, o tempo, norteador dos perdidos, fez com que alguns “sinuqueiros” da ocasião não virassem uma ferramenta mercadológica, mas se inclinassem para uma vida profissional mais romântica, abastecida por uma paixão que, na grande maioria das vidas, as pessoas não se permitem.

Não me surpreendi quando, um belo dia, um dos grandes “sinuqueiros” dessa geração, Gary Gananian, me mandou um convite para assistir um filme de sua direção. Apesar de ser algo relativamente diferente – um jovem amigo virar um diretor de cinema-, jamais associei a imagem de Gary com reclames, mas sim com as belas fotografias de seu Instagram e com o bom gosto musical exibido no rádio de seu carro. De alguma forma, sua atmosfera sempre possuiu uma sinergia com a sétima arte.

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Rapsódia Armênia é um filme que desbrava através de retratos, músicas e diálogos, alguns vilarejos da Armênia. Essa viagem foi feita pelo Gary junto com Cassiana Der Haroutiounian, que somados ao nome de Cesar Gananian formam o trio que dirigiu o longa.

“Eu realmente sentia algo muito único e muito intenso quando eu estava lá (na Armênia). Uma coisa muito forte de estar em casa, estar naquela terra da qual a gente ouviu falar a vida inteira, de onde os nossos avós tiveram que sair por uma questão de sobrevivência”, comentou o neto de armênios, Gary, que esteve lá pela primeira vez em 2007. Sua parceira, Cassiana, teve experiência parecida em 2010, e, o fato da moça também ser neta de armênios a fez ter sensação parecida. Essas experiências foram as principais motivadoras para que em 2011 ambos desbravassem o país com uma câmera na mão.

No dia seguinte do meu papo com o diretor, o acompanhei para uma sessão do documentário e ao prestigiar o resultado final do trabalho do trio fiquei muito bem impressionado. O filme é uma narrativa com mesclas de beleza e humor, onde alguns pontos são muito marcantes, como, por exemplo, os retratos de dezenas de armênios que aparecem nas filmagens – é praticamente um estudo etnográfico – e a trilha sonora marcante, onde a música armênia se mostra incrivelmente rica.

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Durante o filme, me senti imerso em uma cultura até então inédita aos meus olhos, nunca tinha me imaginado atraído pela Armênia, e logo imaginei, “se eu estou me sentindo assim, imagina o sentimento de um armênio vendo isso” e logo quando o filme acabou, não precisei mais imaginar, pois os espectadores vinham cumprimentar e parabenizar o Gary, que estava ao meu lado, e na sua grande maioria eram armênios agradecendo a homenagem, tão viva, que acabara virando um dos maiores registros cinematográficos sobre o país.

Depois, escrevi essa matéria e após escrevê-la, apaguei quase que a metade, pois no meio da empolgação não percebi que tinha escrito inúmeros spoilers sobre o filme, com tantas cenas marcantes que não saem da minha cabeça. Que está em cartaz na Reserva Cultural, até quinta-feira, que já ganhou três prêmios, e que foi apontado pelo jornal Folha de S. Paulo como a melhor programação para esta semana, ou seja: Um programa absolutamente imperdível para quem ainda não assistiu.

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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