Urban Digital Festival e a nossa pouca luz
O mau uso de grandes áreas para estéticas de arte ou entretenimento em terras tupiniquins, por vezes, parece persistir. Um belo exemplo disso são as queimas de fogos do réveillon: se por um lado outras metrópoles do mundo já fazem, há alguns anos, shows pirotécnicos inteligentes, sincronizados, com enredos e trilhas sonoras, por aqui seguimos vendo milhões de reais em fogos sendo queimados — todo final de ano, por décadas e mais décadas — sem qualquer critério, frescor e pouquíssima evolução. (coloco aqui os exemplos de Londres, Nova Iorque e Sydney).
Falando especificamente de São Paulo, que é uma referência em arte urbana, terra dos Gêmeos e do Eduardo Kobra, também é possível constatar uma escassez em relação a intervenções tecnológicas. Ok: em alguns eventos, como a Virada Cultural e o AnhagaBaú da Feliz Cidade, vemos projeções interativas nos prédios do centro; em um bar da “Consoleta”, o Naive, vemos vídeos projetados no muro do cemitério; na D.Edge, projeto do artista multimídia carioca Muti Randoph em parceria com o DJ Renato Ratier, a casa, por si só, pode ser considerada uma obra de arte digital. Mas tudo isso é pouco, muito pouco para o potencial da Paulicéia. Uma boa referência do que podemos ter é, por exemplo, este vídeo sobre Lichtfestival, em Gent, na Bélgica.
Porém, como a evolução é lenta, mas constante, nesta segunda-feira começou o segundo SP Urban Digital Festival, que, entre outras “peripécias”, brinca bastante com a fachada do prédio da Fiesp, também conhecida como “Galeria de Arte Digital Sesi-SP” — um dos símbolos da avenida Paulista.
Ontem, quando passei por lá, o prédio (que é usado desde 2012 como uma grande mídia) projetava o anúncio do evento. Poucos minutos depois, às 20 horas, em uma enorme rampa de madeira do outro lado da rua, montada sobre uma estrutura adornada de LED, skatistas começaram a fazer suas manobras enquanto seus movimentos e sons eram projetados na fachada do prédio como cores e formas geométricas.
A sonorização do evento não era menos eletrônica, “chapei” com o trance que rolava bem no meio da Paulista.
É muito bacana saber que a Galeria de Arte Digital do Sesi-SP será palco de um evento que, até o dia 28 de novembro, contará com performances com interações digitais, vídeos e obras de artes interativas provenientes de pessoas da Espanha, Canadá, Polônia, Japão, EUA, Inglaterra, Dinamarca e Brasil, afinal de contas é um festival que funde arquitetura, arte, mídia, tecnologia e referências que deveriam ser presença constante na formação das pessoas (na minha modesta opinião).
Uma das organizadoras do evento me deu a dica de que hoje deve rolar uma das obras mais legais do festival, o “Monomito 2013″, de Paloma Oliveira e Matheus Knelsen, que é a projeção do rosto de participantes sobre a máscara de um performer. A ideia disso é que, além do impacto visual que deve ser incrível, o Monomito represente a teoria de Joseph Campbell sobre o “herói”: um arquétipo que acompanha a humanidade por meio de contos e mitologias.
Pena que o festival “errou” logo na parte impressa do evento, onde em seu folheto aparece a foto do presidente do Sesi-SP, Paulo Skaf, maior que as fotos das próprias atrações que estão sendo divulgadas, mostrando toda a vontade do sujeito de fazer a própria imagem política com o dinheiro da indústria do estado de São Paulo. Ô tristeza, viu…
Fotos por Adolfo Martins/ Divulgação
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