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Um balé com a cara de São Paulo, em um lugar onde São Paulo mostra a cara

por Estela Marcondes, 21 de outubro de 2013
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Um lugar onde São Paulo mostra a cara. É assim que eu descreveria a Galeria Olido, um verdadeiro caldeirão cultural, que “cozinha” durante os sete dias da semana uma mistura de danças, teatros, exposições e cinema, permitindo à população da Terra da Garoa, de outras cidades, estados e países saborearem um caldo cultural diversificado e curioso.

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Localizado em plena Avenida São João (bem pertinho de onde sempre pensei que alguma coisa deveria acontecer em meu coração, quando ouvia Caetano cantar sobre o cruzamento desta Avenida com a Ipiranga), o local foi o primeiro cinema galeria da cidade. Inaugurado no fim da década de 50, luxuoso, com cadeiras numeradas e com orquestras que se apresentavam antes da exibição dos filmes, era um espaço bastante restrito a uma pequena parcela da população. Meu avô costumava contar que era necessário entrar de terno no local: “sandália Havaianas, calça jeans, bermuda? Nem pensar!”, dizia ele. Felizmente, no século XXI, o público alvo foi extremamente ampliado e a galeria – que desde 2004 foi restaurada – se tornou um centro cultural onde a cidade pode “mostrar a cara”. Com programações para diversas idades e gostos, o espaço oferece programações gratuitas (em sua grande maioria) e de qualidade.

Foi justamente a Galeria Olido o local escolhido para o Balé da Cidade de São Paulo encerrar as atividades de comemoração dos seus 45 anos de existência. Esta companhia, assim como o centro cultural, tem uma história bastante peculiar principalmente no que diz respeito à forma, estilo e objetivo, com mudanças estrondosas, com o passar dos anos, na antiga restrição de acesso e platéia.

Criado em 1968, o Balé inicialmente se propunha a acompanhar as óperas do Teatro Municipal e se apresentava unicamente com obras do repertório clássico. Em 1974, foi passando por muitas transformações e, após uma mudança de diretor, a companhia assumiu o perfil de dança contemporânea – que mantém até hoje – inovando bastante na linguagem. Desde 2001, a atuação do Balé da Cidade de São Paulo se estende também em programas de formação de público e de ações culturais paralelas, principalmente em mostras didáticas pelos mais diversos espaços da capital. Com a ampliação do acesso, a companhia passou a partilhar este patrimônio artístico com a população da cidade e com os inúmeros turistas que anualmente transitam por aqui, ficando, enfim, com a “cara” de São Paulo.

Foi neste cenário que de quinta-feira até ontem (17 a 20 de outubro) o Balé realizou o evento “Ocupação Olido”, com atividades que mostravam ao público várias obras de sua trajetória. Sexta-feira, numa noite de lua cheia e garoa fina, fui com o Gustavo, meu namorado, me deliciar com as apresentações. Na fila da retirada de ingressos, o que vi foi uma miscelânea de estilos e idades: adolescentes em uma excursão da escola, amigas que estavam passando pelo local e se interessaram, um grupo de idosos, pessoas sozinhas, pessoas acompanhadas, pessoas de salto alto, pessoas de sandália Havaianas, bailarinos, amantes da dança e os mais diversos curiosos.

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Achei sensacional a “recepção” do Balé ao público. Inicialmente, os bailarinos estavam com roupas que costumam usar em suas aulas e ensaios, divididos em 3 salas situadas em um mesmo corredor. A platéia foi convidada a escolher uma das salas e entrar, sendo avisada de que posteriormente todos iriam para a Sala Paissandu, teatro maior no qual ocorreria a apresentação “de fato”. O mais bacana era a possibilidade de transitar entre as salas, o que certamente acalmou o coração dos indecisos.

Nestas salas, os bailarinos começaram um bate-papo com o público, conversando de forma tão informal quanto simpática, sobre curiosidades, detalhes sobre os ensaios e rotina, solucionando dúvidas de forma a aproximar artista e expectador. Fiquei pensando como é potente este lance de os artistas evidenciarem sua parte mais “humana”, compartilhando experiências com a platéia. Lembrando da experiência no teatro “Tribos” que relatei na semana passada, me diverti observando as feições do público ao perceber que aquelas pessoas, que em cima dos palcos são sempre tão perfeitas, leves, alegres, feitas de um material aparentemente intocável e quase irreal, são seres humanos feitos da mesma matéria: sentem dor, ensaiam muito, erram, choram, trabalham, desejam, vivem…

Após a conversa, os bailarinos dançaram trechos de coreografias importantes na trajetória do Balé da Cidade. Por fim, todos foram convidados à sala de teatro maior, na qual foram apresentadas duas coreografias de grande sucesso da companhia, montadas por coreógrafos argentinos: La Valse, de Luis Arrieta e Cantares, de Oscar Araiz, ambas com músicas de Maurice Ravel.

Mas, se eu pudesse escolher apenas uma impressão para contar sobre o que marcou desta experiência de sexta-feira, certamente seria que o Balé da Cidade de São Paulo e a Galeria Olido escancaram o fato de que ampliar acesso não tem absolutamente nada a ver com restringir qualidade! A população agradece!

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Fotos por: Gustavo Furuta

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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