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Uma escola como você nunca viu

por Estela Marcondes, 28 de outubro de 2013
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O último final de semana de outubro estava chegando. Parecia que São Pedro andava se animando nos últimos dias e resolvera agradar os friorentos, como eu, com um calorzinho gostoso, anunciando que daria praia (ou piscina, ou parque, ou laje ou “o-qualquer-metro-quadrado-onde-fosse-possível-tomar-sol”). Começaram, então, a surgir algumas propostas de passeios com os amigos, mas eu não poderia aceitar. Pedindo desculpas justifiquei meus motivos: “Xiii… Desta vez não vai rolar. Tenho pós-graduação na sexta-feira até tarde da noite e sábado durante o dia inteirinho”.

Agora imagine que, além disso, este curso dure dois anos e seja necessário entregar trabalhos trimestrais, relacionando os conteúdos das aulas, e um grande projeto de conclusão de curso.

“Nooooossa”, você deve ter pensado, “que coisa chata! Isto é mesmo importante para o seu currículo?”.

Confesso que estes seriam os meus pensamentos se eu convidasse alguma amiga para tomar um solzinho no sábado e ela me contasse esta história. Talvez eu achasse que ela estava sem graça em dizer “não” para a minha proposta irrecusável. Talvez eu ficasse indignada, comentando com ela sobre o absurdo que é a competitividade atual no mercado de trabalho, que tantas vezes causa uma busca tresloucada por diplomas, que chegam a ser até mais necessários do que o próprio conhecimento em alguns concursos de empregos.

Mas e se esta pós-graduação fosse numa escola diferente? Seguindo nesta “viagem mental guiada”, imagine agora que apesar dos trabalhos serem lidos e comentados atentamente, neste curso quem desse a nota fosse o próprio aprendiz! Os critérios de auto-avaliação? Aspectos como a própria dedicação e envolvimento, a tentativa em integrar os conhecimentos aprendidos às vivências pessoais e coisas que fariam suas bochechas avermelharem só de pensar em “forjar” uma nota da qual não se considerasse, de fato, merecedor.

Imagine, ainda, que nesta “universidade” alimentos deliciosos, naturais e vegetarianos (daqueles que até os mais carnívoros seres humanos ficariam com água na boca), fossem cuidadosamente preparados para todos. Que importasse mais o estado de espírito dos aprendizes e como eles se sentiram com os conhecimentos compartilhados do que se memorizassem bem o conteúdo e que fosse completamente natural meditar antes do início das aulas.

paz1Após o almoço – compartilhado com os colegas da turma e com os próprios professores e funcionários – respeitando os ritmos de cada aprendiz, imagine uma coordenadora que anunciasse a existência de uma salinha no piso superior, preparada com colchonetes e almofadas, para aqueles que sentissem a necessidade de descansar alguns minutos antes do início das atividades vespertinas. Para aqueles que, ao contrário, precisassem de “movimento” para que o corpo e a mente conseguissem despertar, uma facilitadora de danças circulares estaria disponível, organizando animadamente coreografias em roda, com movimentos suaves e coletivos, embalados por músicas que lembram canções folclóricas: delicadas, alegres, diferentes…

Se a sua imaginação permitir que você vá ainda mais longe, suponha que entre os temas das aulas estivessem assuntos como: Transmissão de pensamento, ciência e espiritualidade, construção e manutenção de minhocários, pintura espontânea, jogos cooperativos, comunicação não-violenta, chakras, o “bem-olhar” (o oposto do famoso e polêmico “olho gordo”), dentre outros temas com nomes tão inusitados que, se não causassem seu interesse imediato provocariam, no mínimo, sua curiosidade.

Bom, este lugar existe. E não é o único! O que descrevi brevemente aqui, como forma de “viagem mental guiada”, não é nada fictício! Chama-se UNIPAZ e é uma das escolas que integram a “Rede Internacional para uma Cultura de Paz”. No Brasil, a UNIPAZ é um movimento de educação, cuidado e práticas integrativas que busca facilitar “o despertar de uma consciência de inteireza, de onde emana a paz nas ecologias individual, social e ambiental, rumo à sustentabilidade com ética e respeito à vida”, sendo uma instituição holística “transdisciplinar, transpolítica, transpartidária e transreligiosa”. (Para mais informações, clique aqui).
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A UNIPAZ foi fundada pelo Psicólogo francês Pierre Weil, em 1987. Muito tempo antes, quando tinha apenas 18 anos de idade e ainda morava na França, Pierre sonhou em construir, um dia, uma universidade de paz, quando havia sido obrigado a se engajar na Segunda Guerra Mundial. Este sonho acabou se concretizando em Brasília, sede da Universidade, décadas depois. Pierre faleceu em 2008 e atualmente o reitor da Universidade é o psicólogo e antropólogo Roberto Crema e as unidades estão espalhadas em diversos estados do Brasil, totalizando atualmente 33.

paz5Meu primeiro contato com a UNIPAZ foi no ano passado, quando eu e uma grande amiga da Faculdade, a Nathália, procurávamos algum curso, após uma sensação contraditoriamente boa e estranha de “enfim, formadas”. Mas, já imersas em vivências de meditação, artes e outras destas “paixões”, procurávamos um meio diferente de aprendizado.

Na sede de São Paulo, localizada na Vila Mariana, nenhuma plaquinha em frente indica algo que faça o local se assemelhar a uma escola. Nada, externamente, que aparente algo a mais do que uma grande “casa de avós”, daquelas bem amplas e confortáveis. Internamente, a UNIPAZ aparenta ainda menos uma escola habitual. Com desenhos coloridos nas paredes, mandalas penduradas em todas as partes e tsurus esvoaçando em guirlandas embaladas pelo vento no jardim, o local se parece mais com o que eu costumava imaginar como sendo a residência dos duendes, quando assistia incessantemente ao querido e antigo filme em fita cassete “Eu Acredito em Gnomos”.

Vale a pena conhecer o local. Além dos cursos sequenciais, acontecem feiras de trocas, grupos de danças circulares, encontros de terapeutas, seminários avulsos, grupos de estudos, vivências de imersão, práticas de meditação e eventos diversos. Um lugar onde todos ensinam, aprendem e compartilham, no qual eu sinto – por mais bizarro que possa parecer – que tenho aprendido até mesmo a desaprender.

 

INSCRIÇÕES PARA O CURSO, AQUI: https://docs.google.com/a/naosoogato.com.br/forms/d/1SHe2Yi7igskfITwHjpYSFFZCHenBoqFiw8PSGIWb83U/viewform

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Fotos por Estela Marcondes e Malu Palladino

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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