Fanzinada: um encontro de fãs do fanzine do Brasil
Já passava das quatro horas da tarde do último domingo, quando eu venci a preguiça de sair de casa naquele dia frio por um motivo nobre. É que momentos antes eu havia visto uma publicação no Facebook do Paulo Stocker, aquele cartunista que já entrevistamos aqui no site, avisando que naquele fim de tarde iria rolar na Casa das Rosas a “Fanzinada”, um encontro de fanzineiros de todo o Brasil, no qual ele iria participar.
Pra quem não sabe, fanzine vem da contração da expressão em inglês “fanatic magazine”, e seria em português algo como “revista de um fã”. É uma publicação independente, sobre diversos assuntos, que geralmente é impressa em pequenas tiragens. O mais legal de um fanzine é que ele varia muito, se adaptando totalmente à linguagem do criador. Existem, por exemplo, os mais simples, aqueles que viram uma revistinha com apenas algumas folhas sulfites dobrada ao meio, e também os artesanais, impressos em gráficas, com um trabalho mais elaborado.
Mas o que todos têm em comum, é que eles não são distribuídos em bancas e todos têm tiragens limitadas. Ou seja, torna-se um conteúdo exclusivo e, para quem é fã, um exemplar de um fanzine vira um grande objeto de valor e de arte.
Então, naquele típico domingo, quando já estava chegando perto do local, percebi que minha tarde até então sonolenta e preguiçosa iria ser muito especial por alguns motivos. Primeiro porque eu estava indo para a Casa das Rosas, um lugar cultural muito interessante e atípico na cidade de São Paulo. Uma casa projetada pelo escritório do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que após ficar pronta em 1935, foi habitada por uma de suas filhas, a Lúcia Azevedo Dias de Castro. Em 1986 o casarão sofreu desapropriação e a partir de 1991 passou a ser atual o espaço de cultura. Hoje, após anos de verticalização da nossa querida avenida Paulista, a grande casa fica até pequena perto dos grandes e imponentes prédios que a cercam.
A programação da Casa é sempre muito bem recheada com ótimos saraus, oficinas e palestras – e a “Fanzinada” foi mais uma tarde cultural entre tantas outras que acontecem por lá. Como cheguei ao evento quase no seu fim, consegui pegar ainda alguns fanzines que sobraram em cima de uma grande mesa onde estavam expostos alguns exemplares vindos de todo o Brasil. Era só chegar e apanhar o seu.
Dei uma volta pela casa, e chegando na varanda do segundo andar, vi poesia: “Não é de minha autoria este corpo. Nem o nome ao qual me chamam. Eu mesmo fiquei perdido por aí… tentando ser o que queria. Mas só posso ser o que há em mim”, diziam as palavras impressas em uma camiseta pregada no varal, ao lado de muitas outras poesias escritas em roupas e panos pendurados.
Naquele tarde, ao longo de todo o evento, foram realizados alguns debates, oficina de quadrinho, exibição de um curta e lançamento de fanzines e outros trabalhos independentes. Um verdadeiro parque de diversões para quem é apegado ao tema. Rolou também um bate-papo sobre fanzines independentes, no qual eu acompanhei, do amigo Stocker, criador do “Clóvis”, Fábio Moura, criador do “Night Wolf”, do cartunista “underground” Marcatti e do produtor gráfico Fábio Tatsubô. O assunto principal na roda foi a questão da sobrevivência de trabalhos independentes em meio ao furacão do mercado editorial. Os convidados puderam explicar como divulgam seus trabalhos e atestaram que hoje a internet é um grande facilitador na troca instantânea entre o artista e o público.
Para quem gosta do assunto, os artistas acima são nomes de peso no mundo de fanzines. Vale a pena pesquisar. A internet também colabora, disponibilizando até tutorial de como fazer a revistinha. Esta aí! Um mundo literário, no qual eu não conhecia, que me surpreendeu e que também pode surpreender todos aqueles amantes do reino das palavras.
Fotos por Adolfo Martins e Fernanda Miranda
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