Menos showroom, mais Arte na Viela
Fomos para Embu das Artes e presenciamos um festival que buscou frescor para um mercado onde o "mais do mesmo" está na moda.
Pouco suco de tomate — essa foi a minha avaliação ao bebericar ontem um Bloody Mary na região da Paulista. Enquanto pedia ao garçom para avermelharem meu drink, meu companheiro de mesa me perguntou: “mas me conta, como foi o final de semana em Embu?”.
Respondi que foi o oposto do drink que bebia naquele instante. Enquanto meu copo parecia pomposo por fora e se mostrava com pouca personalidade por dentro, esse final de semana me fez perceber que alguma coisa está acontecendo no coração de Embu das Artes.
“Das artes”. Sempre tive bronca desse termo. Quase tanta bronca quanto “cultural”. Vivemos um tempo em que as pessoas necessitam parecer mais interessantes do que realmente são. Acho que por isso que existem tantos casos em que esses termos são usados. É só escolher uma palavra, sei lá… “moita”, e transformar em “moita das artes” ou “moita cultural”. Se essa tal moita realmente tiver arte, cultura, quebra de paradigmas, criação, frescor, tudo bem! Mas quase sempre não é o caso. Ok, talvez eu goste menos ainda da palavra “gourmet”. “Moita Gourmet”.
Acho que fui “envenenado” por todos esses meus pré-conceitos. Talvez por isso tenha ido tão poucas vezes para Embu “das Artes”. Mas dessa vez foi diferente. Fui para Embu através do convite de alguns colegas e também por admirar, já faz algum tempo, o trabalho da Marcenaria São Benedito — loja que tem uma proposta de fazer móveis que são verdadeiras obras de arte. Foi nesse final de semana que essa marcenaria apresentou o primeiro “Arte” na Viela.
Ai… que medo que eu tive de me decepcionar. Mas fui.
No centro da cidadezinha procurei a Viela das Lavadeiras, lugar onde seria a tal Arte na Viela. De cara já vi um carro vintage na frente e um som de música eletrônica ao fundo. Sim, tinha um DJ na viela e me dei conta que essa era a primeira coisa “anti-Embu” que eu presenciava no dia: uma transgressão aos padrões da cidade. Essa viela — bonita e com ares europeus, como se espera de uma viela no centro de Embu das Artes — de fato estava com sua atmosfera muito mais cosmopolita que de costume. Pela sua calçada, além de postes antigos e pedras, também tinha uma chef de cozinha oferecendo sanduíches que incluíam a opção vegana e quitutes apetitosos, como os chips de banana. Mais atrás, artistas grafitavam a parede e músicos e DJ revezavam a sonorização de tudo aquilo.
Lá também encontrei alguns velhos amigos, como o Gary, que estava expondo suas fotos por lá, e a Ana Clara Coutinho, que hoje é responsável pela pintura de muitas peças que são vendidas na Marcenaria São Benedito.
Fiquei por algumas horas no ambiente e ilustradores e mais músicos “pop-uparam” por lá. Quando o final da tarde chegou, pedi para a Ana Clara chamar a Mariane Barcellos, a mulher por trás da Marcenaria. Tive um papo muito bacana com ela, uma designer que revolucionou o negócio da família e, por que não, a cidade de Embu da Artes como um todo.
Ao conversar com Mariane, ficou bem claro a ideia da busca do “se sustentar”, do “ter alma”. Hoje em dia se tornou insuportável o número de lojas de móveis de madeira de demolição em Pinheiros e na Vila Madalena. Todos buscando parecer cool, mas a maioria, no final das contas, acaba sendo mais do mesmo. Já a Marcenaria São Benedito faz os móveis com design exclusivo — até aí “ok” –, convida artistas para personalizarem peças — opa, isso tem algum frescor — e tenta traduzir tudo isso em um festival plural, com manifestações artísticas tipicamente urbanas, como a street art e a tatuagem. Nesse momento, tudo que a Marcenaria tenta passar é transmitido não apenas por um catálogo, mas também pelo estilo de vida de todos que compõem a empresa. Muda também um pouco a tradicional Embu das Artes, que depois de tanto se repetir corre um risco real de tornar-se uma “Embu do Artesanato”. Ganha um novo ar. Sinceramente, que venham mais edições do Arte na Viela com arte.
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