Boxe no Bixiga
Um round poético
Penduradas nas costas, luvas de dezesseis onças. Dentro do peito, mil feras. Tem dia que sair na mão dói menos que matar um leão.
Nas manhãs do Bixiga, levanto o olhar e solto meu quadril. Respirações tensas, cabeça a mil.
A caminho do boxe busco inspiração, na energia de Geraldo Filme, algum ritmo na mão.
No meio da Treze, lá no escadão, nessa matina já tem uma mina fazendo manopla com um malucão.
Que bairro de resistência. Forjado no samba e de tantas bandeiras. Antes da luta, um café no Sabelucha. Dia feliz e ostentado lá no Al Jeniah, o livre Luiz.
Mas nessas manhãs o meu ídolo é Mohamed Ali. Pensando nele, sigo esse rito: flutuar, picar e dizer o que tem que ser dito.
Chego na Roosevelt encontro os irmãos. Amigo Hugo e o Danilão. Comigo.
Na praça, temos na noite a graça do Slam, mas são os jabs que imperam pela manhã.
Pulos de corda, sem tempo para dor, é só mão pesada quando se é cruzador.
Vai round, sobra round, sparing barril, no meio da trocação chuva caiu.
Lá no Bixiga sou sempre feliz, mas deveria ter ido, debaixo do viaduto na Quatorze Bis.
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