Bebendo como antigamente (de verdade)
Ontem seguimos os passos de um amigo meu. Este me falava com o seu infantil sotaque de Hiroshima que eu tinha que conhecer o pub que ele nos levava. Fiquei surpreso, o Daijiro tinha aprendido recentemente a beber e já começava a me nortear para um pub, achei tudo o que estava acontecendo “engraçadinho”, era mais uma “alma pura” consumida pela “cidade grande”.
Muito me enganei. Daijiro, na verdade, queria apenas me mostrar a arquitetura de um lugar e, realmente, me senti na obrigação de compartilhar essa experiência com vocês. Trata-se do Gordon`s Wine Bar, aberto em 1890. Sei que um pub de 1890 para o vitoriano centro de Londres não é uma coisa diferente, mas esse é. Por uma porrada de motivos.
Logo ao chegar vi uma fachada empoeirada, mofada, com madeira machucada que muito parecia com a cenografia do filme “Piratas do Caribe” e ao entrar no lugar desci por uma escada rumo ao subsolo. Escada em que a madeira rangia e com quadros que pareciam ter muito mais de um século.
Fiquei pensando como era legal estar em um lugar velho e feio. Por quê a maioria dos lugares velhos preservados são palacetes ou lugares extravagantes? É óbvio que sempre existiu uma grande maioria de lugares simples no mundo, por qual motivo eles fazem questão de preservar só o mais cafona?
No final das escadas me deparei com uma mesa de acepipes, pouco ao lado, outro balcão, com tonéis e mais tonéis de carvalho. Realmente, era um “wine bar”. O único tipo de bebida que vendia no local era legado de Baco. A infinidade de detalhes do estabelecimento me encantava e no momento em que pedi meu vinho, também vi um balde de carvalho e aço repleto de azeitonas que me sugeriram a pedir também um tira gosto, isso tudo no momento em que percebo no balcão, exatamente onde eu estava, uma placa em bronze escrita “neste local morreu, em 1900, fulano de tal”. Fomos para o “salão”. Daijiro tinha comentado que o pub era em uma “caverna” , na verdade tratava-se de um “calabouço”. Para chegar até as mesas tive que andar curvado, a escuridão e o musgo do teto davam uma certa falta de ar e ao sentarmos e bebermos o vinho, me senti um bárbaro com bigodes molhados em um ambiente escuro e úmido cheirando a álcool.
Chega até ser engraçado ver alguém falando que foi ver um palácio e se sentiu no “passado”. Imagino que meu ta-ta-ta-ta-ta-taravô (não o índio, nem o negro) jamais tenha ido para a realeza, mas tenho certeza que um vinho em uma taberna dessas, ele já deve ter degustado.
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