A Índia fora da Índia.
“We are birds of the same nest. We may wear different skins, we may speak in different tongues, we may believe in different religions, we may belong to different cultures. Yet we share the same home – Our Earth.
Born on the same planet, covered by the same skies, gazing at the same stars, breathing the same air, we must learn to happily progress together or miserably perish together. For man, can live individually, but can only survive collectively.”
( Nós somos pássaros do mesmo ninho. Nós podemos vestir peles diferentes, nós podemos falar em línguas diferentes, nós podemos acreditar em religiões diferentes, nós podemos pertencer a culturas diferentes. Ainda assim nós dividimos a mesma casa – a Nossa Terra.
Nascidos no mesmo planeta, cobertos pelo mesmo céu, contemplando as mesmas estrelas, respirando o mesmo ar, nós devemos aprender a progredir juntos ou miseravelmente iremos perecer juntos. O homem pode até viver individualmente, mas só pode sobreviver coletivamente.)
O texto acima pode ser familiar para alguns. Ele faz parte do “Atharva Veda”, um dos textos sagrados do hinduísmo. Talvez tenha sido o meu favorito dos muitos textos que li ontem no BAPS Shri Swaminarayan Mandir — o maior templo hindu que existe no mundo fora da Índia. E sim, como vocês devem ter percebido, esse templo fica em Londres.
Como toda cidade cosmopolita, Londres abriga diversos mundos e culturas. Moro, por exemplo, numa região predominantemente habitada por libaneses, um lugar com cheiro de kebab e com focos de fumaça por causa dos narguiles. Outra região “não inglesa” e mais conhecida por aqui é a Chinatown, ruas temáticas no centro da cidade com diversos restaurantes chineses. Ontem, porém, foi a vez de conhecer Wembley, uma parte de Londres com “carinha de Índia”.
A nossa primeira parada foi no Shri Vallabh Nidhi, um dos dois templos que visitamos. Este pode não ser o maior, mas tem muita importância para os hinduístas que moram aqui em Londres. Esse templo abriu apenas em 2010, porém demorou 14 anos para ser construído — e já de fora deu pra entender o por quê. Ele foi levantado sob muito cuidado — todas as pedras foram importadas da Índia, e além disso, cada peça de calcária foi esculpida detalhadamente. Por causa de algumas reformas em volta, eu não sabia se a gente podia entrar para visitar o templo, mas pra mim não importava, só o exterior já tinha feito a visita ter valido a pena. Mas aí eu reparei no cantinho uma tímida placa escrita “Entrance“, e lá fui eu fazer uma visita a um templo hindu pela primeira vez na minha vida. Infelizmente — e digo infelizmente mesmo — a minha câmera não pôde entrar comigo. Se já era lindo por fora, imagina por dentro. Um espetáculo. E não digo só pela arquitetura do lugar, mas também pelas bonitas e imponentes imagens das divindades do hinduísmo e a admirável fé dos religiosos que lá estavam.
Seguimos adiante, pois o caminho para o próximo templo ficava a quase uma hora de onde estávamos. Durante o trajeto passamos por diversos mercadinhos de frutas e temperos, lojas com panos indianos e lembrancinhas indianas, e muitos, muitos restaurantes. Paramos para comer em um que uma amiga tinha sugerido, o tal do Palm Beach. O cardápio, um tanto quanto exótico aos olhares de uma brasileira, era de dar água na boca. Carne de veado, intestino de carneiro, coelho, anchovas, tudo com muita pimenta. Eu resolvi “ousar” e pedi um… frango. Mas gostei muito do meu prato, mesmo sendo muito picante (apesar de repetido mil vezes ao garçom que não sou fã de pimentas fortes). Mas ok. Dei uma provadinha também no veado que meu namorado estava comendo (veado com “E”, que fique bem claro), e estava uma delícia!
Depois de dar uma passadinha na feirinha que tem de domingo atrás do estádio de Wembley (o terceiro maior da Europa), finalmente fomos rumo ao maior templo hindu do mundo, com exceção dos da Índia. Este foi inaugurado em 1995, e levou apenas dois anos e meio para ser construído, e tanto os vídeos quantos os panfletos que li dizem que isso foi possível graças a ajuda de mais de 3.000 voluntários. E realmente é de se admirar que um lugar tão grandioso tenha sido construído em tão pouco tempo.
Primeiro fomos visitar uma exposição fixa de lá, “Entendendo o hinduísmo”. Esta, para explicar a origem da religião, seus valores, sua história, sua expansão e sua importância para o mundo. Mais uma vez naquele dia me emocionava com o que meus olhos viam. Além do texto sagrado que já comentei, me encantei por muitos outros textos, bem como pelas histórias hinduístas. Quando finalmente entramos no templo, prestigiamos um lugar cor de branco “puro” – este feito de mármore italiano e calcário bulgário (Mais uma vez não pude tirar fotos de dentro, mas clicando aqui você pode ver algumas fotos do seu interior). Me emocionei mais um pouco com a doação e sinceridade dos fiéis, que incluía crianças pequenas e velhos. Como se já não tivesse visto bastante, o simpático rapaz que ficava na recepção nos levou na “Haveli Prayer Hall”, uma imensa sala feita para reza e celebrações. É lá, por exemplo, que acontece o “Diwali festival”, o ano novo hindu. Como estava tudo apagado, deu pra ver só uma das quatro salas que formam o grande hall, o que já era um espaço imenso. Ele disse que lá cabem mais de 2.000 pessoas rezando sentadas. Façam as contas!
Passear por Wembley é muito agradável, e imagino que deve ser um lugar muito especial e confortante para os hinduístas que vem se aventurar em terras estrangeiras. O que era apenas uma visita, acabou se tornando uma área peculiar e cheia de significados para mim. A única coisa não tão agradável assim foi aquela pimenta, lá atrás. Dá próxima vez eu dou uma bronca bem dada no garçom: “SEM pimenta”. E tenha dito.
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