Sinuca do botequim ao palácio
Lá conheci muitos “tacos”. Trata-se de um lugar com jogadores de nível médio alto – os chamados “pregos” de lá seriam considerados “prata” ou “ouro” em salões que visitei posteriormente. Um dos jogadores mais formidáveis desse salão no Humaitá se chama Aloísio, o Lulu. Homem delgado, mineiro e “embigodado”.
Numa 3ª feira remota me admirei profundamente quando cheguei no Boteco Taco e vi o Lulu perdendo de forma avassaladora. Entre a roda de “perus” perguntei para um deles se o placar que eu via estava correto e escutei como resposta que “ele está jogando com um dos melhores tacos do Rio de Janeiro”. De fato, o homem que “atropelava” o Lulu era o Heitor, um coroa que já venceu grandes campeonatos. Nesse dia entendi que existem “tacos” ainda mais espetaculares por esse mundão.
Mesmo sendo uma segunda-feira, a casa estava cheia. Ao sentar no meu lugar vi um público que mostrava muito garbo. Sentei ao lado de um senhor que me chamou muita atenção. Um negro de cabelos grisalhos, ele usava um terno bem cortado e no lugar de sua mão um gancho – esta não era a única pessoa que parecia vir de um filme do Brian De Palma naquela plateia. Mas o que me chamou mesmo a atenção eram os jogadores que na mesa matavam. Usavam colete e gravata borboleta, miravam com o queixo esfregando no taco e jogavam beirando a perfeição.
Naturalmente, enquanto eu assistia a aquela partida, um filme passou na minha cabeça. Minha vida como apreciador de sinuca começara em um botequim e naquele momento se encontrava em um palácio de verdade. Jogadores com a mesma postura, mas com sapatos brilhosos no lugar do chinelo de dedo. Foi curioso ver que independente do cenário o “uh” que a plateia faz ao ver a jogada errada por pouco é sempre a mesma coisa. Fiquei imaginando um malandro do Humaitá jogando contra um gentleman no Alexandra Palace, como uma criança imagina um duelo do Super Man contra o Goku. Fiquei imaginando que delícia seria poder passar os dias em Londres e as noites, com meu pai e outros “bam bam bans” no Humaitá…
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