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Os muros de Malasaña

por Adolfo Caboclo, 26 de fevereiro de 2013
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Pelas grandes cidades do mundo sempre existirão alguns bairros que irão expressar movimentos pensantes em bares com cerveja trincando e com muita tinta em seus muros. É o caso do bairro de Belleville em Paris, Boca em Buenos Aires, Vila Madalena em São Paulo, Brick Lane em Londres e, na capital espanhola, o de Malasaña.

O bairro espanhol ganhou este nome em homenagem a jovem Manuela Malasaña, que aos 15 anos foi fuzilada em um momento que o país tinha problemas com as tropas de Napoleão Bonaparte. Hoje, pouco mais de 200 anos depois, é difícil imaginar que as paredes cheias de arte desta região já tiveram marcas de balas.

Malasaña hoje é um dos maiores focos de arte urbana da Espanha. Em suas ruas estreitas de paralelepípedos e casas antigas com varandas pequeninas podemos ver, por exemplo, algumas plaquinhas com boas sacadas ilustradas e assinadas pelo nome “Yipi Yipi Yeah” (duvido você falar isso rápido três vezes). Se trata de um grupo que me norteou muito sobre as peculiaridades de quem se expressa pelas ruas da península. Uma delas é que muito da arte pelos muros daqui é assinada “em grupo” – no caso do Yipi Yipi Yeah, é una agrupación totalmente independente. São notórias suas referências “mezzo Space Invader, mezzo Banksy”. Os caras se posicionam como madrilenhos que fazem arte para Madrid e em entrevista já afirmaram que a cidade precisa se reciclar no cenário da arte de rua e que estão muito atrás de Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha.

Outro “time” que se pode ver em Malasaña são os caras do Boa Mistura, que apesar do nome são madrilenhos e explicam em seu site que seu nome significa Buena Mezcla em português. Rs. Talvez estes caras sejam os artistas mais “profissas” que eu já vi. Eles formam um quinteto que tem um publicitário, um arquiteto, um engenheiro e dois artistas plásticos. Em seu portfólio mostram que já expuseram sua competência na favela da Vila Brasilândia, em São Paulo, e em prédios de Berlim. No caso do bairro espanhol, eles possuem alguns trabalhos muitos legais criando imagens ao sobrepor tinta branca em muros velhos e pichados. Pirei.

Outro hombre que faz bonito é o 3ttman, que quando não está enchendo os muros de cores, não resiste à um cimento fresco e se expressa com uns “arranhões”.

IMG_5474Fugindo um pouco do foco artístico do texto, mas continuando em Malasaña, ontem, no final da minha caminhada, almocei em um restaurante chamado Naif, lugar que foge totalmente do padrão dos inúmeros, tradicionais e algumas vezes enjoativos, restaurantes espanhóis. Com um cardápio de saladas e sanduíches ótimos e baratos, ambiente moderninho e garçons doidões que viram seus melhores amigos, eu recomento muito este restaurante. De brinde, em suas paredes e banheiros é possível prestigiar a obra do artista Mr. Haz, que impressiona pelo número de técnicas que domina. O cara faz composições em canetão, tinta, colagens e até mesmo britando muros – ó que legal esse vídeo que achei.

Esse trio: “arte do Mr. Haz”, “comida de primeira” e “garçom sangue bom”, realmente, é de lascar. Por falar nisso, esse blogueiro que vos escreve aqui do bar já falou muito de Malasaña por hoje, não? Dedos cansados e garganta ressecada, entende… – Amigo, por favor una cerveza!

 

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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