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Skye – de volta pra terra da garoa

por Adolfo Caboclo, 18 de abril de 2013
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Alguns problemas pessoais me obrigaram a encurtar minha temporada européia, alterar a data da passagem de retorno e cortar o Atlântico em diagonal, rumo ao sul. Entre aterrissagem e este momento que escrevo , me pergunto quantos pequenos despertares que me impactaram ao entrar em contato com a minha terra. Quantos novos olhares que tive como homem, filho, amigo e namorado. A sede voraz que possuiu o meu lado profissional, artístico e redator e claro: o impulso de novamente reverenciar a “terra da garoa”.

São Paulo que forjou minha brasilidade e me deu o acento que todo meu tempo de Rio e Londres jamais poderia tirar. Como Woody Allen longe de Manhattan, Vinícius afastado de Ipanema ou Picasso distante de uma tourada, eu estava longe dos prédios cinzas – altos, baixos, bonitos, feios. Como a vida -, da superficialidade do verde do Ibirapuera, da democracia da Augusta, dos altos e baixos da Vila Madalena, da fartura gastronômica de Santana, da agressividade do paulistano que é fuzilada, seja por um sotaque grosso e inseguro da periferia ou pelo ar blasé e “coxinha” dos arredores da Faria Lima. Por isso me dei conta que precisava encarar minha cidade, precisava de uma experiência mais que curiosa ou paulistana, precisava de uma experiência para encarar um espelho da cidade que Caetano me sugeriu chamar de “realidade”.


Procurei a melhor vista da metrópole, me lembrei do Skye, no topo do Hotel Unique e foi pra lá que fui. Antes mesmo de chegar, descendo a Brigadeiro Luís Antônio, fiquei observando a falta de padrão da arquitetura da cidade e mais uma vez me flagrei pensando, “como São Paulo é grande”. Quando comecei a me aproximar do grande “pedaço de melancia de concreto” que é o Unique, fiquei mais uma vez encantando com a beleza do projeto. Projeto feito pelo Ruy Othake. São Paulo tem dessas coisas que me lembram o velho mundo.

Logo na entrada vi uma pequena fila de pessoas para pegar o elevador e ir para o topo do prédio. Uma fila interessante. Pessoas elegantes, bem vestidas, onde blazers e saltos pareciam obrigatórios. A roupa fina que tantas vezes me parecia over, dessa vez caiu bem diante do “desbunde” da arquitetura.

Subi o tal elevador, desci em um saguão moderninho e dei alguns passos. Ao virar para a esquerda cruzei um corredor e nesse corredor vi no meu lado direito alguns endinheirados comendo, sorrindo para suas companheiras sem perceber o pedacinho de lagosta que ficava no cantinho da boca. Na minha esquerda vi balcões de inox, com cozinheiros de roupa merengue fazendo arte com labaredas e um pouco de carne.

Claro que o aroma que vinha do meu lado esquerdo me apeteceu, se tratavam de quitutes do Chef Emmanuel Bassoleil, oui, mas é claro também que um rapaz recém chegado do exterior e procurando um emprego não tem condições financeiras de absorver “essa” São Paulo.

Poderia sim absorver o que a maioria dos frequentadores do Skye absorve. Absorvi uma ou duas cervejas, uma música lounge vinda de um D.J. de muito bom gosto e é claro, o terraço do lugar.
No terraço do Skye, sobre um deck sentei em sofás brancos, senti um pouco do cheiro de cloro que a piscina exalava e encarei alguns fatos. Vi que São Paulo não tem estrelas, mas as antenas da Paulista iluminam o céu. Que São Paulo não tem Mata Atlântica, mas o verde das ruas dos Jardins camufla o cinza. Que viajar é bom, mas voltar é ainda melhor.

 

Foto de capa: Paulo Pampolin/Hype/Folhapress

Fotos restantes (com uma lente inapta para captar a magia do lugar rs): Adolfo Martins

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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