Street Art no RJ, além do muro do Jockey
Quando voltei de Melbourne, em fevereiro, impressionada com a cena de street art de lá, me perguntei por que o Rio era tão pouco desenvolvido nesse sentido, e chegando aqui, um pouco mais atenta para a arte de rua, percebi que pouco desenvolvido, na verdade, ainda era o meu olhar. Descobri na zona sul do Rio, expressões artísticas de rua incríveis, do graffiti, nos mais diferentes estilos, à colagens e intervenções, bem além do famoso muro do Jockey.
Já existem, inclusive, passeios turísticos focados na cena de graffiti carioca, como o oferecido pelo Vayable, que inclui um passeio de bike com visita aos principais picos de graffiti da zona sul. Inspirada por essa proposta, no último fim de semana, criei meu próprio roteiro, e com uma visão focada nos muros da cidade, fui de Botafogo à Gávea, registrando tudo de legal que encontrei pelo caminho.
Em Botafogo, a primeira arte que me chamou atenção foi do SRC, com a frase ‘Mais Amor, Por Favor’, movimento que começou em São Paulo com colagem de cartazes pelas ruas e que já se espalhou aqui pelo Rio. E cresceu tão rápido, provando que sim, existe amor no RJ, que eles inclusive criaram uma loja virtual com camisetas e pôsters para que qualquer pessoa possa participar espalhando os cartazes e a ideia por aí.
A segunda parada foi na Escola Municipal Pedro Ernesto, entre o Humaitá e a Lagoa. Os muros da escola são uma verdadeira exposição ao ar livre, e para mim o destaque é o graffitti da Fleshbeck Crew, os traços finos do Daniel Biléu e o estêncil do Nata Família, que ilustra grandes mestres da música, como Jimi Hendrix, Bob Marley e Cartola.
Mais a frente, caindo para a Lagoa, encontrei os coloridos azulejos do Coletivo MUDA. O grupo usa graffitti sobre os azulejos para criar os painéis, um super exemplo de intervenção que impacta e revitaliza o espaço público, quebrando o cinza dos muros da cidade. Além desse painel na Lagoa, outra intervenção do Coletivo MUDA que eu curto bastante está em Botafogo. A seleção do espaço foi perfeita: Um muro caindo aos pedaços, que com graffitti e azulejos coloridos, se transformou de “muro caidinho”, para “muro cool” e estiloso.
Pela Lagoa, passei por muitos outros graffitis, sendo mais um do Fleshbeck Crew o que mais me chamou atenção. Gosto das cores fortes, dos traços marcantes e dos personagens icônicos que eles usam. Não a toa sua linguagem artística se tornou referência no Rio e sua arte está por todo lado.
Mas foi no trajeto final, na esquina da rua General Garzon com a Jardim Botânico, que encontrei a intervenção que mais me despertou interesse: uma bicicleta prateada presa no alto do muro do Jockey. Abaixo dela, um graffitti e cartazes do movimento ‘Mais amor, Por Favor”. Não consegui confirmar a autoria, mas algumas pessoas a apontam como intervenção do Coletivo Consciente. A verdade é que independente de quem tenha feito, a subjetividade da intervenção abre espaço para reflexão e uma bicicleta prateada, porém quase escondida, pode tanto representar o incentivo ao uso de um meio de transporte mais sustentável, um alerta para o respeito ao ciclistas no trânsito, uma homenagem a um ciclista que se acidentou fatalmente ali naquele mesmo trecho, e/ou o que mais a imaginação puder interpretar.
Para completar, ainda encontrei dois artistas, o Nitcho e o Tarm, finalizando um belo graffitti e fechei o dia admirando com mais atenção a arte e as mensagens do muro do Jockey.
Com uma diversidade cultural tão ampla, a cena de arte de rua no Rio não se limita a zona sul. Já vi graffitis, xilogravuras e pinturas colorindo as ruas de Santa Teresa e do Complexo do Alemão. Mas queria mesmo ver a cena de arte urbana carioca evoluindo e legitimando outras técnicas e formas de expressão além do graffitti. Potencial e a criatividade a gente já está provando que tem.
Fotos por Fernanda Sigilião
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