AnhangaBaú da FelizCidade
A selva paulistana é cheia de informações intensas, sejam elas profissionais, gastronômicas, culturais, consumistas ou infinitas mais. No meio disso tudo encontramos as festas, muitas festas. Tem aquelas que você descobre onde vai ser só no dia, através de um SMS. Tem aquelas que ninguém quer ir justamente porque todo mundo vai, ou aquelas com músicas ruins e sem propósito e aquelas com músicas boas para “salvarem o mundo”. Tem as festas que não vingam e algumas festas que dão absolutamente certo – como a festa do Santo Forte, que ganhou força sob a batuta do DJ Tutu Moraes e suas “macumbas boas” em forma de música e brasilidade para uma legião de pessoas com tiras de couro no pé, homens barbados e mulheres de vestido estampado. A minha história de hoje começa nesse último sábado, quando escutei: “Vai ter um Santo Forte de Rua no Anhangabaú hoje”.
Em uma cidade inflacionada, um sábado de festa de rua me pareceu irrecusável. Um quarteto da minha virtuosa trupe se reuniu em uma casa em Higienópolis, preparou e degustou um “almojanta” e seguiu caminhando pela Avenida São João rumo ao som do Tutu. Próximos a Galeria do Rock vimos os primeiros doidos da noite, que não pareciam “uniformizados” para o Santo Forte. Ao chegarmos no Anhangabaú, para minha surpresa, não nos deparamos com o Santo Forte, mas sim com uma belíssima festa… de hip hop. Nisso, meu amigo recebe um telefonema e nos fala: “Meu colega disse que tá numa Voodoohop aqui.” – Ah sim, a Voodoohop é outra das festas que deram absurdamente certo em SP, e esta festa estava acontecendo bem atrás dos rappers que perambulavam pelo lugar, em um vão com um DJ em uma extremidade e projeções que diziam “Mais amor, por favor”, em outra. No meio, pessoas em êxtase, ondulando com as batidas. Cruzamos esse mar de gente e no final descobrimos a América, ou melhor, o óbvio: estávamos em um festival – o AnhangaBaú da FelizCidade. “Má ôe”!
O que veio depois da Voodoohop era o palco de rock pauleira. Meninas vestidas de negro, cabelos coloridos, roupas de couro, piercings e tatuagens. Eram “As Radioativas”. O peso de seus acordes e de todas as outras muitas bandas que tocaram naquele mesmo palco posteriormente contrapunha o do palco do lado oposto, onde, por exemplo, rolou o som de “Canções Velhas Para Embrulhar Peixes” (definitivamente, nomes “fofos” estão na moda), do Peri Pane, com seu alternativo público o prestigiando sentado calmamente em pneus de carros que estavam espalhados pelo chão, em frente a um prédio com projeções. Falando em projeções, a maior delas projetava algumas pessoas que estavam lá, no próprio Anhangabaú, em uma “brincadeirinha” bem legal proporcionada pelos organizadores do evento.
Organizadores, muitos organizadores. É impossível apontar um responsável pela FelizCidade. Ela foi feita por muitas pessoas que acreditam na cultura e na cidade, sem ajudas externas. Eles conseguiram fazer uma pequena virada cultural sem detonar a verba da cultura em um único dia, como anda acontecendo nos últimos anos aqui na capital paulista. Além dos 4 palcos que eu já comentei, também vi mais 3. Não tive tempo de absorve-los, afinal, já era muita informação, mas claramente não faltou reggae e estilos de rock mais leves. Além das atrações que a própria cidade nos proporciona por si só. Que delícia ver de pertinho e de noite os iluminados Prédio do Banespa e Teatro Municipal.
No fim de tudo, não é que eu vi uma multidão de pés com tiras de couro, barbas e vestidos estampados? O Santo Forte lá estava em forma de bloco, fazendo uma pequena multidão perambular aos arredores do centro da cidade. Uma cidade que pulsa muitas vezes sozinha e que a cultura insiste em florescer.
Fotos por Adolfo Martins e Fernanda Miranda
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