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O jovem pianista Vitor Araújo

por Fernanda Miranda, 21 de junho de 2013
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Muitos de vocês já devem ter visto o documentário Elena. Se não, provavelmente ouviram falar. Dirigido por Petra Costa, Elena é uma história real, que emociona por ser contada com tanta sensibilidade e delicadeza. É sim delicado, mas também é forte, grandioso, e por isso a história permanece dentro da gente por tanto tempo, muito além das horas de dentro do cinema. E como um filme bem executado, ele acerta não só no roteiro, mas também em outros aspectos, como em uma bonita direção de fotografia e de arte. Mas dessa vez, o que me tocou em especial foi a trilha sonora, e, dos nomes que assinaram o filme, o pianista Vitor Araújo, até então não conhecido por mim, me chamou a atenção. Ao sair do cinema, eu estava encantada por uma música que eu não sabia o nome, mas que mais tarde descobriria que se chama “Valsa pra Lua”, composição de Vitor que está em seu primeiro disco, “TOC”.

“Valsa pra Lua” foi só a primeira das muitas composições de Vitor que virariam trilha sonora única no meu computador nessas últimas semanas. Petra acertou ao escolher a música de Vitor como trilha, porque assim como o filme, suas composições são intensas, profundas, tristes até, mas descomunalmente lindas – criando um casamento lindo entre som e imagem.

A minha comoção pela sensibilidade da música de Vitor se tornou ânsia em entrevista-lo. Nessa última segunda-feira nos encontramos em uma padaria em São Paulo. Pernambucano de Recife, com aquele sotaque gostoso de se ouvir que só os pernambucanos tem, ele estava indo para a manifestação contra o aumento da tarifa na capital paulista. Além de dois discos na carreira, Vitor também faz parte da banda Seu Chico, e participou do filme Febre do Rato, de Claudio Assis. Logo vi que ele é um rapaz divertido, cheio de piadas com os garçons. Enquanto ele “filava uma bóia” na padoca, eu o entrevistava. Talvez, nessa conversa, eu estivesse procurando a resposta de onde vem aquela magia de sua música que encanta e emociona tanta gente, mas descobri, saindo de lá, que jamais irei encontra-la. A música de Vitor transcende, e isso basta como entendimento.

Não Só o Gato: Vitor, quando você começou a tocar piano?

Vitor Araújo: Eu comecei a tocar quando era criança. Tinha 8, 9 anos. Eu tinha que fazer alguma atividade paralela ao colégio. Tem gente que faz inglês, tem gente que faz algum esporte, eu escolhi a música. Eu entrei no Conservatório, fiz um ano de teoria musical e depois escolhi meu instrumento, o piano.

NSG: Como rolou a oportunidade de gravar seu primeiro disco, o TOC?

Vitor: Eu ganhei um concurso, pianista faz concurso, né? A gente toca, eles dividem por idade, e é eleito o melhor pianista. Eu ganhei quando tinha 16 anos de idade, e um dos prêmios era fazer um concerto. E aí eu fiz no salão do Santa Isabel [Teatro Santa Isabel, em Recife]. Fiz, gravei e coloquei no Youtube. Um dos compositores das músicas que eu tocava era um pernambucano chamado Marlos Nobre, e ele ficou muito irritado com a forma que eu interpretei sua música “Frevo”, porque eu adicionei coisas que não existiam na partitura. Ele mandou uma carta aberta para o jornal criticando duramente a minha interpretação, e eu era só um jovem estudante na época, tinha 16 anos. Gerou uma polêmica da qual só eu colhi bons frutos, e isso fez com que minha carreira começasse. Eu acabei tocando em alguns festivais importantes em Pernambuco, como o MIMO [Mostra Internacional de Música em Olinda], um dos festivais mais importantes de música instrumental do Brasil e da América Latina. E aí foi uma quantidade muita grande da imprensa, de artistas e meu concerto foi muito noticiado. Antes disso as pessoas ainda não sabiam quem era eu, mas aí depois do concerto saí em vários veículos importantes, na capa de alguns cadernos de cultura pelo Brasil. O diretor da Deckdisc leu uma das reportagens, ouviu minhas músicas e me convidou para fazer parte do cast da gravadora. E assim gravamos o TOC em 2007, sendo lançado em abril de 2008.

NSG: E o segundo disco, A/B…

Vitor: Com o “A/B” foi diferente. Eu já era um artista independente, não tinha toda a estrutura da Deckdisc à minha disposição. No “TOC”, das onze faixas, nove não são minhas. Já no “A/B” seis são músicas minhas e só duas são interpretações. Foi um disco bem demorado, eu compus a maior parte das músicas em 2009 e 2010. Foi demorado pra compor, foi demorado pra sair, e eu só consegui com que ele ficasse pronto no começo de 2012. [O álbum completo está disponível no Youtube aqui.]

NSG: Quais são suas principais influências?

Vitor: É difícil de dizer, mas de música brasileira boa parte veio da minha infância pernambucana. Eu considero muito minhas influências da adolescência. Elas que me deram vontade de ser músico. Então por exemplo, eu vi o Mombojó nascer, acompanhava todos os shows, sabia todas as músicas. Foi assim também com Cordel do Fogo Encantado. Então acho que esse processo me influenciou muito, além de, é claro, meus professores, que me influenciaram bastante no meu jeito de tocar. Foi uma professora minha que despertou minha paixão por Villa Lobos.

NSG: E entre suas composições, qual é a sua favorita?

Vitor: Eu gosto muito de “Baião”, acho que é a composição mais bem sucedida. E eu gosto muito de ouvir a “Solidão n.4” por causa do final dela. Na verdade toda a primeira parte do disco, as Solidões, eu gosto muito. Mas “Baião” chega mais perto da onde eu miro.

Até o dia da entrevista, no dia 17 de junho, não havia nenhum concerto de Vitor agendado em São Paulo ou no Brasil. Para acompanhar sua agenda, siga o twitter dele aqui.

Foto de capa: Heloísa Bortz

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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