Paraty em Foco 2013 – Os ensaios
As ruas colonias de Paraty carregam história. História das mais diversas, das novas às (bem) antigas, como quando, a seculos atrás, a cidade servia de porto que levava o ouro de Minas Gerais para Portugal. Mas ela também possui outros tipos de história, que se materializaram em eventos que a cidade abriga como a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), o Festival da Cachaça ou o festival de música Bourbon Festival. Hoje, Paraty se consagra como uma das cidades mais culturalmente pulsantes no nosso país. Nesses últimos dias, de 18 a 22 de setembro, mais uma efervescência cultural entrou em seu currículo: A nona edição do festival de fotografia Paraty em Foco.
O tema deste ano foi “Extremos”, que explorou a história de outros países e culturas para aproximá-las da nossa. Afinal, quanto mais estivermos dispostos a enxergar o mundo do outro, independente da sua distância e diferença, mais estaremos próximos e livres de preconceitos. E a fotografia é fundamental para colaborar nesse processo. O evento rendeu encontros, entrevistas, workshops, exposições e intervenções pela cidade – são mais de 50 páginas de programação no livrinho expositivo. Por isso, vou me limitar a escrever sobre alguns dos ensaios que vi.
O primeiro deles é um que, quem mora ou estava em Paraty, viu. Viu porque é uma instalação enorme no estacionamento do ITAE, ao lado da praça e da igreja mais famosa da cidade. A instalação “O Grande Cubo ou Torre de Babel” é quase tão grande quanto a própria igreja, e nela estão expostas fotografias enormes de dez diferentes artistas, numa miscelânea de diferentes e curiosas maneiras de olhar o mundo distribuídas dentro e fora deste cubo gigante. Me encantei especialmente com a obra de Guadalupe Miles e seu ensaio “Estar ao sol”, um projeto incrível em que ela registra uma das comunidades na Argentina com maior presença indígena – a Chaco, em Salta, norte do país. (Veja todas as fotos do ensaio aqui).
Também me chamou a atenção o trabalho do fotógrafo Roberto Tondopó, que explorou seu próprio universo familiar. “Neste projeto documento instantes da vida dos meus sobrinhos, Andrea e Ángel. Mesmo que pouco a pouco deixem de ser pequenos, ainda convivem com elementos da infância que se unem a elementos próprios da adolescência: uma fusão entre o seu imaginário, a luta pela sua independência individual com a construção de uma identidade”, explicou. (Veja as fotos do ensaio aqui). Quando vi a instalação não sabia quem eram os fotógrafos, e muito menos conhecia as histórias por trás das imagens. Mas depois descobri que as fotos dos fotógrafos citados têm em comum a intimidade que possuem com os fotografados, pois assim como Tondopó retrata seus sobrinhos, Guadalupe registra amigos com quem conviveu na comunidade da Argentina. Por isso, os dois ensaios exalam uma gostosa atmosfera que talvez só a naturalidade da convivência pode permitir.
Vi também uma exposição na Galeria Zoom – a “Child Labour and exploitation in Bangladesh“, (Trabalho infantil e exploração em Bangladesh) do fotógrafo espanhol Pep Bonet. O ensaio integra um projeto de investigação fotojornalística chamada “Modern-Day Forms of Slavery” (Formas modernas de escravidão), da agência Noor. A agência, desde 2007, reúne trabalhos de dez fotógrafos de sete diferentes nacionalidades, que exploram temáticas como guerra, violência sexual e trabalho infantil. Vale muito a pena ver os ensaios no site, e, inclusive, há lá na página um interessante ensaio sobre o Brasil, “um país em rápida transição”, como descrevem. É sempre legal ver a visão de fora para o que é tão acostumado aos nossos olhos.
Em seu ensaio em Bangladesh, Pep registrou o trabalho a que crianças são submetidas no país do sudeste da Ásia. Segundo estatísticas, cerca de 5 milhões de crianças dessa região com idade entre 5 e 15 anos trabalham em condições de risco. Enquanto eu via as fotos, todas acompanhadas com legendas contando a história da criança retratada, uma música clássica bem alta tocava ao fundo e cachorros passeavam pelas salas junto aos visitantes. E sobre as fotos, bem… Acho que as imagens valem mais do que mil palavras, como diria o clichê. Mas cabe nesse caso.
Juntando esse texto e mais a experiência que o Adolfo já comentou aqui, não é difícil perceber o quão grande é o mundo que o Paraty em Foco apresenta a cada ano a todos nós. Curiosos, uni-vos para a edição número 10 em 2014!
Fotos por: Paraty em Foco e Pep Bonet
Comentários