Orquestra Voadora: carnaval circense
“Minha carne é de carnaval, meu coração é igual…”. E como! Baiana nascida e criada em Salvador, desenvolvi uma relação de afeto com a festa do Rei Momo desde pequenina, quando já ia ver os trios, fantasiada de baianinha (redundâncias da folia). Longe de ser tão viciada em carnaval quanto muitos soteropolitanos, reservo o “lepolepar” à semana da celebração, indo curtir outros sons e outras noites (por favor, obrigada) assim que termina o feriado.
Desde que meus pais me liberaram pra sair sozinha no carnaval, nunca mais perdi uma semana carnavalesca sequer da capital baiana, até que me mudei para o Rio de Janeiro. Resolvi, então, fazer jus à minha nova morada e passar o carnaval de 2014 em terras cariocas. Comprei minhas fantasias e meus cílios postiços no Saara – sério, se fantasiar é legal demais – e #partiu. Assim como os cariocas têm orgulho enorme de morar no Rio, os baianos têm orgulho enorme do seu carnaval, então essa decisão foi significativa.
Saí todos os dias, curti vários bloquinhos de rua, me esforcei nas produções. Quando, já na terça-feira de carnaval, fui assistir à Orquestra Voadora botar seu bloco na rua, não pude deixar de me impressionar. Não entro aqui no mérito ou falta dele na folia de cada cidade – os dois são muito legais, completamente diferentes, e eu pulo de graça em ambos porque eu sou da pipoca. É que esse foi o bloco mais lindo que eu já vi! Falando inclusive de outras manifestações incríveis de rua que presenciei em São Paulo, por exemplo.
A Orquestra Voadora faz seu som de bateria e metais desde 2008, produzindo arranjos divertidíssimos e inusitados de clássico de vários estilos musicais. Eu, por exemplo, cantei “Sossego”, do Tim Maia, em pleno Aterro do Flamengo lotado de 90 mil foliões mais enfeitados que a árvore de natal da sua vó, acredite! Do alto de um pequeno morro, pude ver os cerca de 200 músicos coloridos pondo em prática coreografias sintonizadas com as canções. Pura emoção!
Como se não bastasse tanta novidade musical no meu carnaval, o bloco vinha abrindo caminho com uns 30 bailarinos lindamente fantasiados, que alegravam o povo de cima de suas pernas de pau. Sim, pernas de pau, seguindo o circuito de um bloco de carnaval, e eles estavam tão lindos que era difícil desviar o olhar, aff! Vi uma moça sambando com seus “saltos de madeira” e um outro rapaz carregando uma bebê tão pequenininha, com seus protetores de ouvido, balançando as pernas gordinhas lá em cima da multidão.
Cheguei bem perto dos bailarinos para tirar umas fotos, e uma “Marilyn” veio, afoita, comentar quão lindos eram aqueles artistas vistos de perto! Ela, então, me fez olhar pra trás e ver, no alto de uma ponte que servia de camarote, mais umas dez Marilyns reunidas, assistindo ao espetáculo: “larguei minhas amigas e vim pra cá sozinha, ver de perto. É muito lindo!!!”, se empolgava. Ouvi dizer que em cima do carro de som rolou até casamento, ministrado pelo animador do bloco.
Quem foi ver a Orquestra não deixou barato e caprichou nas produções, o que colaborou bastante com o clima circense pairando no ar. Olhando de cima, tudo que eu via era muito alegre, colorido, performático, dançante e sedutor, no sentido mais amplo da palavra! Um prato cheio para o carnaval de rua neo-fanfarrista, como defende a galera da Orquestra Voadora. Como circo nunca é demais, do nada me aparecem uns acrobatas que começam a rebolar de maneira provocativa e engraçada em argolas penduradas numa das pontes do percurso. E a multidão? Delírio puro!
A experiência fechou com chave de ouro meu carnaval e me mostrou um jeito tão lindo, novo e ao mesmo tempo familiar, de carnavalizar que eu já tô com saudades e querendo mais. Mais cartazes de “Purpurine-se aqui”, mais amigos queridos, mais fantasias engraçadas e Marilyns desgarradas, mais perna de pau, confete, serpentina e banda dançando em sincronia. E, no final, mais um show particular para uma dúzia de pessoas que um dos músicos da banda resolveu nos dar (insira aqui coraçõezinhos). Ah, carnaval, carnaval…
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