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A fritura que faz bem

por Estela Marcondes, 31 de março de 2014
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Imagine a situação: você está em um churrasco e de repente a turma começa a fazer um som. O Robertão, aquele seu amigo “boa pinta”, pega o violão e começa uma canção. O Paulinho, que sabe fazer de tudo, já descola um pandeiro e aprimora o batuque. A Ana, que tem uma voz incrível, puxa a cantoria e a galera vai seguindo assim: um batuca na mesa, outro transforma o saleiro em chocalho e de improviso o encontro de sons forma uma banda. Mas você fica de canto, meio sem jeito. Desde pequeno, adora música. Mas sempre diz para os outros – e principalmente para si próprio – a mesma desculpinha esfarrapada: “não tenho ritmo, não toco nada… no máximo ‘toco o bonde’ e sigo a vida. Música? Só se for para ouvir! Fazer, nem pensar”.

OK, entendo sua postura. Mas asseguro que esse pensamento irá fazer parte do seu passado. Como? Apareça no encontro Fritura Livre, lá na praça Victor Civita, pertinho do metrô Pinheiros, no último domingo à tarde de cada mês e coloco minha mão no fogo para garantir que você vai mudar sua opinião sobre sua capacidade musical. Se você já leva jeito para a coisa, não está menos convidado. Todos são bem-vindos.

O “Fritura” é um espaço livre, organizado pelo grupo “Fritos” (estudiosos da música corporal), que proporciona encontros abertos, inclusivos e comunitários de música corporal, envolvendo práticas conjuntas de percussão corporal e música vocal. Na primeira vez que ouvi o nome do grupo, imaginei que como o encontro acontece domingo em uma praça, o nome fazia alguma relação com o cheiro de pastel de feira no final de semana ou alguma coisa assim. Viajei! A explicação é bem mais interessante do que essa. O nome brinca com a “fritura” mental que o batuque corporal vai causando. Só quem experimentar poderá entender realmente o que isso significa.

Ontem foi dia de Fritura Livre. Quem passou pela praça viu cento e vinte caixas de som. Cento e vinte corpos-som. Cento e vinte sorrisos. Muitos de olhos fechados, alguns descalços, alguns mais tímidos, alguns mais jovens ou ainda jovens que nasceram há muito tempo. Mas é quase impossível acreditar que não é um ensaio de um coral profissional o que se presencia. A impressão que eu tenho é que o Zuza e o Ronaldo (os “maestros” do time) têm a fórmula para arrancar não o som que é formado pela vibração das cordas vocais dos participantes e pelo encontro das palmas da mão em batuque, mas o timbre que ecoa do coração de cada um. As pessoas vão se conectando durante o encontro com sua própria voz interior, com um som sagrado que vem de dentro e com o som do outro, formando elos deliciosamente musicais e despertando capacidades totalmente desconhecidas. Em minha opinião, é este o segredo. E agora está provado: tem fritura que faz bem!

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 Fotos por Zuza Gonçalves

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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