Chico Político Buarque e seus 70 anos
Elza Soares, Criolo e outros artistas homenagearam Chico no Ibirapuera, mas o lado político do evento foi um show à parte
Depois de 13 dias trabalhando sem nenhum dia de folga, ontem, finalmente, tive um descanso. Não sei se posso falar que foi um descanso, afinal de contas estou agora, na madrugada de domingo para segunda, escrevendo para o Gato. Mas de qualquer maneira, posso afirmar que acabei fazendo no domingo exatamente tudo o que eu gosto de fazer: acordei tarde, tomei café na padaria com toda a calma do mundo, caminhei pela Paulista, fui ver uma apresentação circense em um dos incríveis galpões da Funarte e, por fim, fui ver um show em homenagem aos 70 anos do Chico Buarque no parque do Ibirapuera, onde músicas do cantor e compositor foram interpretadas por Elza Soares, Criolo, Nina Becker, Saulo Duarte, A Unidade, Blubell, Aláfia, Felipe Cordeiro, Brothers of Brazil e O Terno.
Claro que quando fui ao show, jamais imaginei que escreveria sobre o assunto por aqui. Minha paixão pela obra do Chico já não ferve como costumava ferver nos meus tempos de faculdade. Também convenhamos que são inúmeros os nomes que podem falar sobre Chico Buarque com um embasamento infinitamente superior ao meu. Se bem que aos três anos de idade, em 1989, eu costumava ver meu pai jogando bola no mesmo campo que o Chico, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio. Duvido que o Wagner Homem tenha lembranças do Chico, pessoalmente, aos três anos de idade.
É, mas pensando bem, acho que talvez o que tenha me levado a escrever hoje sobre o Chico não tenha sido minhas lembranças de criança, nem os inúmeros churrascos em que ele ocupou com exclusividade as caixas de som da minha “vitrola”, nem as paixões que suas músicas embalaram no meu coração “de fiador”. O que me fez escrever sobre Francisco Buarque de Holanda foi um sentimento de dever de homenagear um ídolo somado a uma série de peculiaridades que ocorreram na noite de ontem. Que show peculiar.
A primeira peculiaridade foi a que choveu. Em tempos de solo rachado, a água resolveu aparecer e molhar o parque que esse ano já tinha recebido em seu auditório — sempre aos domingos de noite — nomes como Gilberto Gil e Bobby McFerrin. Fato é que sempre quando tem eventos nesse formato no Ibirapuera é legal pra caralho. São eventos de graça, que fazem o domingo ficar muito mais bonito. Esses shows no Ibirapuera, ao meu ver, deveriam ocorrer com cada vez mais frequência. A cidade merece.
Já a segunda peculiaridade foi o cunho político que o negócio ganhou. Em tempos de arranca-rabos homéricos entre eleitores azuis e vermelhos, na semana passada Chico declarou apoio para a candidata à presidência Dilma Rousseff. Atualmente ele também aparece nas propagandas da atual presidenta e muitos de seus fãs assumiram o mesmo fervor político. Foi uma noite em que os frequentadores das proximidades do auditório do Ibirapuera, em sua maioria, usaram roupas e adesivos vermelhos, assim como a maioria dos músicos que por lá tocaram. No intervalo entre as músicas o canto de “olê, olê olê olê, Dilma, Dilma” era uma constante.
O show em si, foi lindo. Foi curioso ver, por exemplo, o Supla cantando “Olhos nos Olhos” com um arranjo roqueiro. Uma das atrações principais, Criolo, entrou com menos energia que estamos acostumados a ver ele impor no palco, mas no final das contas tudo ficou pequeno se comparado à ultima participação da noite: Elza Soares. Ela, que nos últimos anos apareceu no palco apenas sentada, ontem cantou suas músicas em pé — até tinha uma poltrona que a produção deixou lá no palco, mas ela não foi usada. Elza Soares foi absoluta. Finalizou com “Partido Alto”, onde o refrão dizia “diz que Deus dará” e uma minoria complementava gritando “chuva”, palavra que foi sufocada pela maioria que completou a música com o nome “Dilma”. Preferências políticas à parte, incrível como a música do Chico, mesmo com o passar dos anos, continua com sinergia política, faz com que o povo se anime mesmo debaixo de chuva. Fica aquele sentimento de que são 70 anos com ainda muita lenha pra queimar…
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