Matando a curiosidade no Museu Histórico da Medicina USP
Na Faculdade de Medicina da USP se esconde um Museu - de graça, vazio, do lado do metrô e bem bacana
O que você espera encontrar numa Faculdade de Medicina? Laboratórios, pessoas de avental branco, talvez alguns cadáveres e instrumentos de tortura. Sim, tem tudo isso. Mas pouca gente sabe que na Faculdade de Medicina da USP, a Pinheiros, se esconde um Museu. Pois é, o Museu Histórico Professor Carlos da Silva Lacaz esteve à beira de fechar e graças a uma denúncia ao Condephat, que reconheceu a preciosidade do acervo, foi reinaugurado em 2008.
O Museu iniciou recentemente sua terceira exposição, dedicada ao restauro dos quadros dos Diretores da Faculdade de Medicina (1912-2012), com entrada franca para qualquer ser de Deus perdido pelo quarto andar do prédio na Doutor Arnaldo.
(Observação — e uma dica — para situar os desavisados: Faculdades tradicionais têm essa pompa charmosa de fazer retratos de cada Diretor que assume, para a posteridade. Na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, por exemplo, é possível ver alguns dos velhacos de beca pendurados pelos corredores, dignos de um castelo mal assombrado. Glamour é para poucos).
Confesso que, na minha opinião, ver quadros de senhores posando com roupa de palhaço é não lá a coisa mais interessante do mundo, mas fiquei super curioso para saber mais desse museu. E, em época de mega-exposições superlotadas em São Paulo, um roteiro de graça, vazio e do lado do metrô me pareceu bem válido. Então fui.
De cara, o guia da visita monitorada desfez meu nariz torto para os retratos dando algumas palavras sobre a biografia de alguns dos Diretores. Não sei porque, sempre fico interessado na trajetória de sujeitos que estão por aí deixando seu tijolinho no mundo. O guia me destaca que nenhuma mulher foi diretora ao longo dos cem anos da instituição, e para sanar essa ausência feminina montaram um painel dedicado à primeira mulher cirurgiã do Brasil e primeira professora titular da Faculdade, Angelita Habr-Gama, com fotos também de alunas de sua
primeira turma (ponto “feminazi”, tamo junto).
Num trecho sobre a relação entre a instituição e a Igreja Católica, é possível ver a Bula Papal de Clemente VI, publicada em 1346, há quase 700 anos! A Bula manifesta o desejo do Papa de estimular o estudo da medicina nas Universidades. Nobre, não? Clemente VI também escreveu a Bula Unigenitus, que justifica o poder papal e a concessão de indulgências. Menos nobre. De qualquer forma, o documento está lá, e impressiona pelo estado de conservação.
A parte fixa do museu traz algumas curiosidades históricas da medicina. Eu estava com alguma esperança de um armário com bizarrices médicas no formol, mas não foi dessa vez. Me contentei com o que tinha: instrumentos antigos e enferrujados de dar medo, desenhos feitos em bico de pena durante um congresso médico internacional, medicamentos mais que obsoletos. Clichê inevitável: incrível pensar o quanto a tecnologia médica evoluiu em tão pouco tempo. E um aleluia que não precisamos mais tomar injeção com uma dessas seringas.
O Museu Histórico da Faculdade de Medicina da USP pode não ser lá um grande museu histórico, mas tem seu valor. É uma boa dica para quem está passando de bobeira pela Avenida Doutor Arnaldo, e uma ótima desculpa para passear pelo prédio da Pinheiros. Conversando com a secretária do Museu, fico sabendo que estão sendo organizadas exposições itinerantes com parte do acervo em estações de metrô da cidade. A próxima será no Barra Funda, fica a dica para quem for passar por lá.
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