E a dança da vida, dessa vez com um requebrado flamenco, fez o blogueiro que vos fala vir morar em Madrid. Mas primeira semana de “vida nova”, vocês sabem como é. Uma dureza! Meu pai já diria: “toda mudança, mesmo que seja para melhor, no começo é complicado” – que mania de estar sempre certo.
Fato é que para os momentos de insegurança na vida existe a “comida”. Descontamos em “comidinhas super nutritivas” e chocolates toda a nossa “pequenice” diante da incerteza, da nossa falta de amor, falta de amigos, infelicidade no trabalho e coisas do gênero. E se tem um lugar que não falta comida nesse mundão de desafios, OLÉ, esse lugar é a Espanha.
Por aqui moro na casa da señora Maria Antônia, que ronda seus 70 anos, e entre as muitas coisas que aprendeu na vida, uma é o domínio das técnicas engordativas espanholas para estudantes. Mestra em fazer “aquele” cozido madrileño com grão de bico em plena terça feira de noite e minar a mesa do café da manhã com croissants e Nutella, ela impõe de forma ditatorial que todos os dias uma taça de vinho deve ser bebida durante o jantar – mesmo para enfermos e pessoas que não bebem, afinal de contas, trata-se de uma casa espanhola e em casa espanhola não se come sem vinho e pão. Dona Maria Antônia é grande fã da comida madrilena e acredita com veemência que aqui é o melhor lugar do mundo para se comer, o que às vezes até acredito. Uma das coisas que ela costuma dizer é que “o melhor porto da Espanha é Madrid”. Não demorei muito pra entender o motivo.
Aqui as pessoas se alimentam do bom e do melhor. Diariamente se vê lagostas “pulando” e caranguejos soltando bolhas pelas mesas das peixarias. Os morangos de Madrid tem o tamanho de kiwis e os bares tem uma infinidade de jamóns pendurados em seus balcões. É lei (de verdade) por aqui: no momento em que você clama “amigo, por favor una cerveza“, a cerveja chega acompanhada de um tira gosto. Aqui não se bebe sem comer.
E foi descontando inseguranças e entendendo essa comilança que o acaso me fez deparar com o Mercado San Miguel. Lugar turístico, sim. Pelos preços parece que a crise que ronda a península ibérica não passou por suas charmosas vidraças, ou talvez ela não tenha encontrado lugar para estacionar aos arredores cheio de Vespas paradas. A verdade é que o “curioso” pode não ser a preferência dos nativos de uma cidade tão tradicional. Talvez este mercado seja tudo que um espanhol não espera de um lugar para passear: pessoas falando em inglês; paredes transparentes, modernas e pouco intimistas; preços discutíveis, cervejas em copos maiores que suas tradicionais cañas, uma construção de 1911 com ares moderninhos. Porém, como “brazuca” que sou, pirei em tudo.
O layout do Mercado San Miguel é incrivelmente harmonioso. Todos os clichês espanhóis estão lá. Bonitinhos, seguindo uma lógica – tem até peixaria com lagostas “pulando”. A vendinha de jamón na frente da quitanda, que fica ao lado da loja de bacalhau. No centro do quadrilátero que forma o mercado muitas pessoas tomam suas tacinhas de vinho, drinks são oferecidos juntos com frutas frescas, enquanto isso muita paella repousa em panelas enormes. Uma barraca de ostras com homens consumindo champagne e exalando um ar blasé, perto de uma livraria que fica na frente de um café com baristas bem talentosos. Engraçado como eu vi a Espanha dos meus sonhos justamente neste lugar que os espanhóis tanto reprovam.
Minha experiência com o Mercado San Miguel foi absolutamente o que se espera para um cara que está a poucas horas em solo desconhecido. No lugar turístico, tirando conclusões de certa forma superficiais, observando muita coisa nova e tentando tirar todo o frio na barriga com petiscos deliciosos e cerveja gelada. Francamente, espero vencer logo este frio na barriga, pois neste ritmo o tal “melhor porto da Espanha” terá uma baleia encalhada…rs
Adolfo Martins | Não Só o Gato
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