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Quando decidi criar uma padoquinha vegana online

Flora Matsumori fala sobre ativismo vegano traduzido em um negócio online.

por Adolfo Caboclo, 23 de março de 2015
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Já falei por aqui que, no ano passado, eu decidi fazer um curso de palhaço (clown é o caralho… palhaço, “véiuuuu”). Por lá, no meu primeiro dia de aula, ocorreu uma coisa muito doida aos meus olhos ranzinzas: não estava acostumado a ver aquele monte de gente “feliz”, dando gargalhadas em plena terça-feira à noite. Eu, hein?!  E no meio de tantas gargalhadas, as que mais me chamaram a atenção foram a de uma moça, que descobri depois que se chamava Flora Matsumori.

Não demorou muito para eu conhecer a Flora um pouco melhor. Se por um lado me chamava a atenção o fato dela gargalhar com tanta facilidade durante as aulas, por outro, antes e depois do curso, me surpreendi com a moça vendendo cupcakes e salgados veganos com tanta seriedade — talvez não seja “seriedade” a palavra, mas algo parecido com “credibilidade”.

Depois que comi o seu primeiro cupcake — me lembro que era algo trufado de chocolate –, perguntei para a moça: “Como você faz isso sem ovos e leite?” e ela me respondeu: “Quem disse que precisa de ovos e leite para fazer isso?”.

Pois é, com o tempo eu também descobri que a Flora tem uma padaria virtual vegana, a Padoquinha da Flora.

Engraçado, né… Quando pequeno meu sonho era ter uma padaria, até que meu pai começou a me falar de como é difícil ter um negócio desse tipo (essas coisas que coroas administradores dominam: controlar estoque, gerir gente quase que 24 horas por dia). Com o tempo também passei a observar inúmeras padarias abrirem (e fecharem) pela cidade e recentemente conheci algumas padarias veganas — uma nos Jardins e outra na zona norte — , mas sempre as palavras do meu pai vinham na minha cabeça: “Ter padaria é dureza”. Também pensava nos gastos vertiginosos para abrir um negócio desses. Pois bem, mas os tempos mudaram. Hoje é possível fazer tanta coisa irada de forma online. Tanta coisa que muda o mundo, de verdade. Abaixo segue um papo com a ativista vegana e empresária online. Com a palavra, Flora:

Não Só o Gato: Você veio de uma família com bastante relação com a área de saúde e bem-estar — no caso com a massagem. Isso também se aplicava na comida? Imagino que a Flora não tenha nascido vegana, certo?

Flora Matsumori: Meus pais eram bem naturebas quando meu irmão mais velho nasceu. Depois eles foram diminuindo o radicalismo. Mas nunca foram vegetarianos, o lance era mais comida integral, sucos, leite de soja.
Aí, quando eu tinha 9 anos, decidi, por conta própria, parar de comer carne vermelha. E durante os 10 anos seguintes eu fui largando a carne e tudo de origem animal. Aí resolvi fazer meu ativismo em prol dos animais mostrando pros onívoros que pode se comer bem sem crueldade. E até agora todos aprovaram.

NSG: Um ativismo através da comida. Onde você aprendeu a fazer tanta coisa — principalmente massas — sem leite e ovos?

Flora: Principalmente na internet. Sempre gostei muito de cozinhar, então resolvi procurar opções de receitas que se enquadrassem no meu estilo de vida — sim, poque veganismo não é dieta!

Mas testei muitas receitas, adaptei algumas, descartei outras e cheguei numa gama bacana pra oferecer para as pessoas.

NSG: Quando esse ativismo virou empreendedorismo?

Flora: Começou como hobby, depois virou um “extrinha” no salário, e quando eu sai do meu antigo emprego, resolvi fazer do hobby um emprego. Foi super difícil no começo poque ninguém botava fé mesmo, né? Mas depois de investir bastante energia, o universo resolveu retribuir…

NSG: E como você pretende ajudar o universo? Talvez transformando as pessoas em veganas? Fazendo vegetarianos pararem de comer ovos?

Flora: Acho que não é muito a questão de ajudar o universo. Talvez minha colaboração seja, de fato fazer, o que eu gosto, e continuar acreditando nisso… não quero transformar ninguém em vegano. Meu papel é mostrar que é possível viver sem carne e derivados de origem animal e que esse é um “luxo” que ninguém depende pra sobreviver. Se mesmo assim você decide continuar consumindo, pelo menos eu tirei uma venda dos seus olhos, fiz minha parte, e você pode fazer suas escolhas de forma mais consciente.

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Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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