Quando decidi criar uma padoquinha vegana online
Flora Matsumori fala sobre ativismo vegano traduzido em um negócio online.
Já falei por aqui que, no ano passado, eu decidi fazer um curso de palhaço (clown é o caralho… palhaço, “véiuuuu”). Por lá, no meu primeiro dia de aula, ocorreu uma coisa muito doida aos meus olhos ranzinzas: não estava acostumado a ver aquele monte de gente “feliz”, dando gargalhadas em plena terça-feira à noite. Eu, hein?! E no meio de tantas gargalhadas, as que mais me chamaram a atenção foram a de uma moça, que descobri depois que se chamava Flora Matsumori.
Não demorou muito para eu conhecer a Flora um pouco melhor. Se por um lado me chamava a atenção o fato dela gargalhar com tanta facilidade durante as aulas, por outro, antes e depois do curso, me surpreendi com a moça vendendo cupcakes e salgados veganos com tanta seriedade — talvez não seja “seriedade” a palavra, mas algo parecido com “credibilidade”.
Depois que comi o seu primeiro cupcake — me lembro que era algo trufado de chocolate –, perguntei para a moça: “Como você faz isso sem ovos e leite?” e ela me respondeu: “Quem disse que precisa de ovos e leite para fazer isso?”.
Pois é, com o tempo eu também descobri que a Flora tem uma padaria virtual vegana, a Padoquinha da Flora.
Engraçado, né… Quando pequeno meu sonho era ter uma padaria, até que meu pai começou a me falar de como é difícil ter um negócio desse tipo (essas coisas que coroas administradores dominam: controlar estoque, gerir gente quase que 24 horas por dia). Com o tempo também passei a observar inúmeras padarias abrirem (e fecharem) pela cidade e recentemente conheci algumas padarias veganas — uma nos Jardins e outra na zona norte — , mas sempre as palavras do meu pai vinham na minha cabeça: “Ter padaria é dureza”. Também pensava nos gastos vertiginosos para abrir um negócio desses. Pois bem, mas os tempos mudaram. Hoje é possível fazer tanta coisa irada de forma online. Tanta coisa que muda o mundo, de verdade. Abaixo segue um papo com a ativista vegana e empresária online. Com a palavra, Flora:
Não Só o Gato: Você veio de uma família com bastante relação com a área de saúde e bem-estar — no caso com a massagem. Isso também se aplicava na comida? Imagino que a Flora não tenha nascido vegana, certo?
Flora Matsumori: Meus pais eram bem naturebas quando meu irmão mais velho nasceu. Depois eles foram diminuindo o radicalismo. Mas nunca foram vegetarianos, o lance era mais comida integral, sucos, leite de soja.
Aí, quando eu tinha 9 anos, decidi, por conta própria, parar de comer carne vermelha. E durante os 10 anos seguintes eu fui largando a carne e tudo de origem animal. Aí resolvi fazer meu ativismo em prol dos animais mostrando pros onívoros que pode se comer bem sem crueldade. E até agora todos aprovaram.
NSG: Um ativismo através da comida. Onde você aprendeu a fazer tanta coisa — principalmente massas — sem leite e ovos?
Flora: Principalmente na internet. Sempre gostei muito de cozinhar, então resolvi procurar opções de receitas que se enquadrassem no meu estilo de vida — sim, poque veganismo não é dieta!
Mas testei muitas receitas, adaptei algumas, descartei outras e cheguei numa gama bacana pra oferecer para as pessoas.
NSG: Quando esse ativismo virou empreendedorismo?
Flora: Começou como hobby, depois virou um “extrinha” no salário, e quando eu sai do meu antigo emprego, resolvi fazer do hobby um emprego. Foi super difícil no começo poque ninguém botava fé mesmo, né? Mas depois de investir bastante energia, o universo resolveu retribuir…
NSG: E como você pretende ajudar o universo? Talvez transformando as pessoas em veganas? Fazendo vegetarianos pararem de comer ovos?
Flora: Acho que não é muito a questão de ajudar o universo. Talvez minha colaboração seja, de fato fazer, o que eu gosto, e continuar acreditando nisso… não quero transformar ninguém em vegano. Meu papel é mostrar que é possível viver sem carne e derivados de origem animal e que esse é um “luxo” que ninguém depende pra sobreviver. Se mesmo assim você decide continuar consumindo, pelo menos eu tirei uma venda dos seus olhos, fiz minha parte, e você pode fazer suas escolhas de forma mais consciente.
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