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As ruas de Jack

por Adolfo Caboclo, 5 de novembro de 2012

Existem coisas que não tem receita. Quando me pego pensando sobre este site, por exemplo, entendo que sua viralização não possui fórmula, mas que um fator que ajuda muito é a qualidade, profissionalismo e paixão com que tudo isso é feito. Para criar muitas outras coisas creio que seja assim. Até um assassino.

“Jack” é um dos assassinos mais famosos da história, tanto que virou um emaranhado de hipóteses e lendas. A força de sua história é encontrada em livros, filmes, quadrinhos e peças. Agora eu também tentarei contar um pouco sobre Jack, o estripador.

Vivendo em Londres me pego diariamente fantasiando estar no passado. São tijolos, paralelepípedos, carros, becos, postes, muita coisa com aparência cenográfica. Em uma tarde de domingo, passeando com meu velho amigo Luccas aos arredores de Liverpool Street, ele comentou que aquelas ruelas que caminhávamos eram onde ocorreram os assassinatos da autoria de Jack. Poucos dias depois me flagrei desvendando o filme e o quadrinho “From Hell”, e naturalmente a ideia de contar no NSG sobre o rastro do serial killer mais famoso do Reino Unido foi amadurecendo.

Tudo aconteceu em 1888. Não é difícil imaginar a aparência da cidade nesta época, mas

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato
é curioso pensar que os valorizados arredores de Whitechapel era um núcleo miserável, frequentado por centenas de prostitutas. A região também contava com muitos estrangeiros, e havia uma porrada de atritos entre as crenças das variadas naturalidades de seus muito pobres cidadãos. Me pergunto: como uma cidade pode evoluir tanto em 100 anos?

Cada pessoa que conversei sobre os assassinatos me contou uma teoria. Não dá pra acreditar em várias, e a do filme do Johnny Depp julgo ser uma das piores, então resolvi fazer o feijão com arroz. Fui aos lugares onde a história oficial aponta e conversei com uma estudiosa do assunto.

A nossa primeira parada foi em Durward Street. Lá, em agosto do ano dos assassinatos, que a primeira brutalidade ocorreu. Oficialmente foram 5 vítimas. Mary Ann Nichols é o nome da primeira delas. Como esse é um site de experiências e não o programa do Datena, não postarei as fotos dos corpos e tentarei ser o mais sucinto possível ao descrever o motivo pelo qual o estripador faz jus ao título, mas infelizmente não da pra contar essa história sem “ir por partes” – inclusive muitos acreditam se tratar de um cirurgião. Confesso que é bem assustador entrar “no clima de investigação” no meio da noite e embaixo da fria e constante garoa londrina.

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato
O legal de caminhar aos redores das ruas que ocorreram os fatos é ver que praticamente a arquitetura de tudo se manteve. Mas onde antes era a delegacia local, por exemplo, virou um restaurante.

No local do segundo assassinato, já no mês de setembro, Annie Chapman foi encontrada com o corpo em situação muito parecida com o de Mary, só que Annie estava sem seu útero. Além disso, as vítimas eram encontradas com uvas, fruta muito cara na época.

O assassino começava a formar uma série, com sadismo e requintes, que todos comentavam.

A polícia começou a receber cartas, muitas falsas, mas uma em especial com a promessa de cortar as orelhas da próxima vítima e em sua assinatura o nome “Jack the ripper” sendo utilizado pela primeira vez. A promessa foi cumprida em 30 de setembro, quando houve a noite do duplo assassinato de Jack. Elizabeth Stride e Catherine Eddowes.

Catherine perdeu um rim e seu útero, e na famosa carta recebida pela polícia em que Jack assinou “from hell” ele afirma ter comido este rim.

Este 4º assassinato ocorreu em Mitre Square. Lugar dos mais intrigantes, porque na época tinha uma delegacia por perto. Durante minha passagem por lá fiquei convencido que era impossível alguém fazer uma “cirurgia” dessas e simplesmente não ter sido visto. Além disso, pouco depois foi encontrado lá perto, na Goulston street, em um sobrado, um avental ensanguentado que seria do Jack, e na frente do local uma parede que ele teria pichado com giz a seguinte frase “The juwes are the men that will not be blamed for nothing” ( Os juwes são os caras que não vão ser culpados por nada) . Para completar a salada não sabemos quem são os “juwes” (talvez “jews”? “Judeus” escrito errado) e a polícia mandou apagar essa pichação sem se quer ter sido fotografada. Detonaram a única evidência que tinham.  Até Adolfinho, mais de um século depois e nunca tendo feito uma investigação criminal alguma, pode concluir que o nosso assassino foi encoberto pelas autoridades da época.

Não pudemos ir no lugar do último assassinato, pois foi em um quarto – se Jack fazia toda essa barbárie na rua, imagina em um quarto fechado com a pobre Mary Jane Kelly-, mas passamos pela Dorset Street, rua do local para dar uma olhada. Triste, muito triste.

Obviamente, como o grande investigador que sou, tive que terminar minha noite no Ten Bells, pub famoso por ter sido frequentado pelas vítimas do estripador, e até mesmo, por quê não, pelo próprio Jack. Afinal de contas, um blogueiro  investigador também merece molhar a goela.

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato

 

 

 

 

 

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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