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Celebração e Luta na 10ª Passeata do Movimento SuperAção

por Estela Marcondes, 9 de dezembro de 2013
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Quando você ouve falar em “passeata”, qual a primeira imagem que vem à sua cabeça? Anos atrás, a palavra me remetia à figura de pessoas caminhando em um mesmo fluxo, protestando ou promovendo uma causa. Curiosamente, a própria origem da palavra está relacionada ao termo latim passare, que é o ato de “pisar, caminhar”. Mas desde que conheci o Movimento SuperAção, meu imaginário descritivo do que é uma “passeata” ganhou contornos muito maiores.

O Movimento SuperAção foi criado em 2002, buscando chamar a atenção da sociedade para os direitos das pessoas com deficiência no Brasil, incentivando seu protagonismo, inclusão e justiça social e exercício da cidadania de todas as pessoas. Com estes objetivos, pessoas com e sem deficiências uniram-se e criaram o movimento, que dá vida à sua militância principalmente através de passeatas.

Sábado passado, na semana em que se comemorou o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (03/12), foi data de celebração e luta para o Movimento SuperAção, na décima edição paulista de sua passeata. Na “Rádio Rock” (89 FM), a voz do cadeirante rappeiro Billy Saga e da radialista Luka anunciavam a confirmação de bandas e nomes importantes da música, no show que aconteceria em frente ao MASP, destino final da passeata. Quando ouvi a propaganda do evento, brotou em meus lábios um sorriso imenso e sincero, por perceber como esta galera tem ganhado visibilidade a cada ano. Eu não poderia perder esta luta-festa (ou seria festa-luta?).

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A previsão do tempo para o sábado era implacável: chuva no período da tarde. Pensei que a notícia poderia causar um transtorno pra todos os que, como eu, esperavam ansiosamente pelo evento. Decidi, então, ligar para meu querido amigo Carlos Henrique, um dos organizadores (que, anos atrás, me apresentou o movimento), para saber o que aconteceria caso caísse um pé d’água. Do outro lado da linha, em tom de obviedade, Carlos me respondeu que a passeata aconteceria conforme o planejado, fizesse sol ou chuva.

Talvez a resposta tivesse me surpreendido se eu já não conhecesse esta turma que tem uma “raça” de dar inveja a qualquer um (a começar por mim mesma) que praguejaria a bolha no calcanhar que a mistura de sapato + asfalto encharcado poderia causar. Mas eu não esperaria outra coisa de um movimento que tem como um de seus lemas de passeata a genial frase: “Estamos na rua. Na calçada é impossível!”, denunciando, com perspicácia e humor, os obstáculos urbanos que dificultam não só a vida de pessoas com deficiência, como a vida de TODOS os demais cidadãos, até mesmo os que não apresentam nenhuma dificuldade permanente ou provisória de locomoção (pessoas empurrando carrinho de bebê, por exemplo).

No final das contas, sábado não choveu! Em cima das rodas das nossas bikes, meu namorado, eu e diversas outras pessoas nos misturamos às rodas das cadeiras e das rodas de outras bikes, patins, skates… observando a diversidade no vão livre do MASP, tive a certeza de que as condições climáticas seriam MESMO o de menos e nenhuma gota poderia ofuscar o brilho da 10ª Passeata do Movimento Superação.

S2 Encontro sobre rodas. De boné, no centro da imagem, o Carlos Henrique.

Mas ninguém melhor do que alguém que está no movimento há muitos anos para falar sobre ele. Por isso, pedi ao Carlos que contasse para o Não Só o Gato um pouco dessa jornada, a partir de suas próprias vivências. Com a palavra, o grande Carlos Henrique Mendonça:

“Entrei no Movimento SuperAção no ano de 2004, quando foi realizada a primeira passeata. Por compartilhar e acreditar nos mesmos ideais. Muitos avanços aconteceram nestes últimos anos. Hoje, se vê mais pessoas com deficiência nas ruas, inseridas no mercado de trabalho e participando ativamente na nossa sociedade. O Brasil possui uma das melhores legislações do mundo na garantia de direitos para as pessoas com deficiência. Porém, muitos desses direitos não são garantidos, o que acaba dificultando a inclusão social.

Vejo o SuperAção como uma missão na minha vida. Acredito em uma sociedade inclusiva, com equiparação de oportunidades e a participação plena das pessoas com deficiência, onde poderemos conviver com as nossas diferenças.

A passeata de hoje foi a décima edição do Movimento SuperAção São Paulo. É sempre um grande desafio organizar esse evento, desde a capacitação de recursos à divulgação para que as pessoas possam estar presentes. É um processo muito burocrático, que demanda tempo e encontramos algumas dificuldades. Todo ano é assim e este ano não foi diferente. O importante é que conseguimos organizar um evento lindo, que reuniu um grande número de pessoas, e transmitimos a nossa mensagem. É um trabalho de formiga, que vem dando resultado. Aos poucos, vamos desconstruindo aquele visão antiga de coitadinhos, incapazes, que ainda existe em relação às pessoas com deficiência. Somos cidadãos como qualquer outro, sujeitos de direitos e deveres, temos sonhos, desejos, objetivos. Queremos viver com dignidade, ter acesso a educação, cultura e lazer. A sociedade ainda não está preparada para nos receber, temos muitos desafios pela frente.”

É, Carlos… este trabalho de “formiga” já está tão gigante que acredito já podermos começar a falar da “sociedade” como se não fosse externa a nós, em 3ª pessoa do singular. Esta mesma sociedade, que “não está pronta para receber as pessoas com deficiência”, está — através de instrumentos como o Movimento SuperAção — percebendo que ela é por essência 1ª pessoa do plural!

S6 Ao centro, Luciana Trindade, que entrou no SuperAção há oito anos, quando conheceu alguns integrandes da Oficina dos Menestréis: “Sozinho, ninguém faz barulho! Por isso, nos juntamos e vamos para a rua”, contou Luciana com um grande sorriso no rosto. S5 Galera na passeata com o cachorro “Toddy”, que está passando por dois anos de treinamento para ser um “parceiro” ajudante de uma pessoa com deficiência. S3 Emanoel Martins, com a solução inteligente e barata para o alto custo de uma cadeira motorizada: uma espécie de triciclo elétrico.

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Mais informações: http://movimentosuperacao.org.br/

Fotos por Estela Marcondes e Gustavo H. Furuta

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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