Entre ventres, entremuros
No meio que lhe diz respeito, se esconde, se perde e não se pode raiar.
Desperta entremuros, os olhos fechados permanecem. Muros à prova de maremotos, erguidos através dos escombros. Não há nada que possa entreter e deter, quando a madruga afunda, queira ou não há aurora, ela emerge, urgente. A madrugada sempre avança, representando essa mudança, entremuros desperta mas não se pode raiar. Em um pequeno raio, em tocaia nunca se raia. A tocaia permanente é incoerente, dessincronizada com a mudança. Entremuros se balança, longe do tempo que dita a dança.
Quanto mais ela carrega, mais de perto se alcança. Quando você dá a mão… Ela arrasta, arrasta mas no fundo parece que nega, nega em silêncio. Finge que vai mas não, balança mas não vai. Um balanço: Avanço, recuo. Chacoalha, vacila, chacoalha e como se fosse a própria maré, que não é, brinca, entreolha, faz de conta, ouve o murmúrio da concha e nos braços dela se entrega. Resiste mas desapega. Quando resolve se permitir, se deixa levar e ouve seu sussurro das entranhas… O tempo todo se mantém impermanente, avança conforme o fôlego, entre equilíbrio, entre trôpego.
Ao fundo, ela teima em aparecer. E permanecer, diz que é essencial. Ao fundo da dança a música, crucial, mas entre as pessoas, também entre elas no fundo há o silêncio, onde foi gerada a música, o início feito concepção, o grão. Dentro do ventre, entremuros, se esconde e se perde no meio que lhe diz respeito, onde se é obrigado a se isolar, não se é permitido raiar.
A janela do quarto entreaberta pela manhã, a faixa cheia estampa de luz a colcha azul sobre a cama do casal. Iluminado quarto, todos os dias o faixo de luz no mesmo ângulo, sempre no mesmo horário. Ele encobre a coberta, engole a seco a cama, do casal é o que resta, uma réstia que ali não passa batida, ela sempre chega como se já estivesse de partida.
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