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Sidarta, Emicida e o falso profeta

Quem vibra o umbigo, não se movimenta.

por Adolfo Caboclo, 6 de outubro de 2020
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Uma figura me observa e, com respirações pausadas, diz: “o meio se torna o que você vibra”. Sobre o homem que me diz isso, sinceramente, acho um chato.

Me lembro de Sidarta, personagem do livro de 1922 de Hermann Hesse, autor que posteriormente ganharia o Nobel de literatura. Obra que apresenta a narrativa de um moço que em sua jornada sai do conforto da casa dos pais; depois segue um guru; depois se apaixona; depois passa anos sendo um rico mercador; depois larga tudo e vai ser um barqueiro; depois se descobre pai. Nesta obra, Sidarta é Buda e encontra a iluminação ao dançar com a vida. Ao se harmonizar com o cosmos e suas variações. Não o contrário.

Suponho que a base do equilíbrio é a mutabilidade diante do ambiente. Particularmente, quanto mais arte produzo, melhor sinto os momentos de depuração e os momentos de caos. Os momentos figurativos e os momentos abstratos. Me parece um ritmo.

Movimento Modernista; movimento Concretista; movimento Neoconcretista. Suspiro graça por eles. Pelo fato de serem movimentos, serem o oposto da inércia, serem ondas. Um único tom é mo-no-tonia.

A sapiência não se apresenta nos quereres, expostos em música de Caetano. O caminho tem o verde da natureza, mas também algum concreto pichado; passarinhos, mas também morcegos. Entendo que para cada experiência e cenário, uma alma precisa se desenvolver em formas e habilidades diferentes. Evolução é movimento, no dicionário é “progresso; processo em que há modificação constante e progressiva, alterando um estado ou condição”.

Como na discografia do Emicida, que tanto provocou e encontrou harmonia em seu último álbum, AmarElo. Como Mondrian, no momento que foi compor com azul, vermelho e amarelo. Como a criança na bicicleta, que precisa pedalar para se manter equilibrada.

Esse homem calmo, que me observa pregando que o mundo deve se tornar apenas o que ele vibra – o que ele consegue emanar mais algum greenwashing –, segue maçante. Ecoa sempre o mesmo, apenas o que simpatiza. Não baila nos infinitos ritmos que um dia pode apresentar. Não entende que a luz de Buda está, justamente, na jornada de Sidarta.

 

coleção particular

Composição II em Vermelho Azul e Amarelo (Piet Mondrian, 1930)

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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