A Terra que a habita
Só a lua sabe o som que rompe o silêncio no fundo da água.
A Terra de água, na sua profundeza, terra. Nas superfícies das águas, pedaços de carne boiam dispersos pelos continentes. Dizem que o segredo está no ar, através da respiração, assim se boia. O pensamento na superfície mente, e no fundo se pisa a terra os pés, de onde se brota antes de ramificar.
De carne e água: sangue, o pulso. Ele dá liga à música. Todo o mundo tem a sua trilha o brilho, o som, as ondas, do olho a imagem espelho e tudo o que vê é o corpo de água. Além do olhar enxerga o universo, e como é difícil encara-lo!
Só a lua sabe o som que rompe o silêncio no fundo da água. Lá se ouve, nada se diz, não somos a lua. Somos a água que não escutamos, ao falar nos afogamos. Pisa na terra, não sabe onde mora a raíz, onde se esconde a dor a delícia, o tormento não visto não acessado, inimigo desconhecido e muito temido: ele é feroz pelo não contato, ainda é primitivo o instinto.
A rédea tira o ar de quem a deixa levar, arrasta por terra, da água a sede, do fogo chama peito, lhe tira o ar o pensamento. Quando se veste rédea forma ferida crua na boca, a saliva estanca em perfeita harmonia sua cúmplice, a rédea por via térrea é fatal, com destino sempre chega.
Se faz menção à ela quando o assunto foge da compreensão e se opta por se deixar conduzir pela força que arrasta, atropela o que está no caminho. Como se não pudesse parar, contemplar o que seduz e ensina, a cavalaria avança, quer explorar o espaço, o olho do universo a lua, sua íris. Mas não escuta a voz que o habita, não se sente a terra com os pés ou com as plantas, não há mais margem para verter águas, tudo cai onde o buraco está, ele é mais embaixo e enquanto isso a cavalaria avança…
Menina, por que chora? Enquanto boia, as águas a embalam em maternos braços. Não vês que está na hora? Do meu ventre a batizo, rebenta! Se vá, não se deixe iludir, tudo passa menos o afago, assim lhe embalo, toda força em excesso por terra cai, esvazia, se esvai. Não tema, jamais ficará desamparada, em seus lençóis as águas nunca estão paradas, tampouco caladas. Se passam por mudas como tudo o que muda, oculta movimentação de dentro, o tempo, sereno, constante.
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