7ª Pedalada Pelada
Ontem, dia 15 de março de 2014, foi novamente dia de ficar pelado em público. Dessa vez por uma pauta de mobilidade urbana.
Iniciada em 2004 no Canadá, a World Bike Naked Ride foi adotada no Brasil com o nome de Pedalada Pelada, em 2008. Desde então, anualmente ciclistas pedalam quão nus se sentirem à vontade, num apelo por mais visibilidade no trânsito e para destacar a fragilidade de nossos corpos frente à violência do motor e da velocidade.
Era minha segunda vez. Ano passado estreei minha participação sem ficar completamente nu por preocupação com a imagem no trabalho e entre familiares, que ainda não estavam acostumadxs com a ideia das minhas “peladices”. Choveu muito em 2013 e isso fez com que o número de participantes fosse menor, mas o entusiasmo do grupo aumentou em resposta à forte chuva que nos deixara encharcadxs. Foi lindo, era novo pra mim, muita adrenalina.
Esse ano a polícia sequer apareceu como fez nos anos anteriores. Também me senti mais inserido na ação. Logo que cheguei na concentração, na Praça do Ciclista (Avenida Paulista), pedi para me pintarem e saquei toda a roupa do corpo (mantive apenas um lenço amerelo de bolas pretas no pescoço porque achei charmoso). Todxs animadxs desde a concentração, pessoas fotografando para a imprensa, até que chegou o programa Pânico na Band querendo gravar uma matéria e nós tentamos expulsá-lxs, pois não queríamos chacota com uma coisa séria como essa. É uma “pequena” sensação de revolta ver a mídia querendo se furtar de uma ação importante para ter audiência num programa que ridiculariza a tudo e todxs para fazer “comédia”.
Prontxs, com inscrições nos corpos como “assim você me vê” (em alusão a invisibilidade que se inverte por estarmos pelados), “mais amor, menos motor”, “obsceno é o trânsito” e “respeito no trânsito”, seguimos pela avenida Paulista ao cantos de “ei, você aí parado, vem pedalar pelado”, “trânsito obsceno”, “menos carro, mais bicicleta”. Sempre gritando e cantando, seguimos pela Augusta sentido centro, Consolação, Dr. Arnaldo, Cardeal Arcoverde, passamos por entre os bares de Pinheiros/Vila Madalena, subimos a Teodoro Sampaio e retornamos para a Praça do Ciclista para encerrar a Pedalada Pelada.
O público das calçadas recebeu de maneiras muito variadas. A maioria se assustou ao perceber que a aquele grupo todo de ciclistas estava nu ou quase nu, poucxs se envergonharam, e grande parte interagiu com brincadeiras, nem todas saudáveis do meu ponto de vista. Nesse momento, percebemos novamente como a nudez é um tabu em nossa sociedade e junto a isso escancara o machismo, o pudor exagerado e a sexualização de toda e qualquer nudez. Muito desrespeito, principalmente com as mulheres, demonstrado de forma “oculta” nas brincadeiras que faziam quando passávamos. Há também o público de dentro dos carros pelos quais cruzávamos. Esses muitas vezes também interagiam com as brincadeiras, mas muitos, quando tinham a oportunidade de passar por nós, o faziam de forma agressiva, enfatizando a necessidade da nossa ação.
Já pararam para observar como a maioria dos carros, ao menos em São Paulo, circula com apenas uma ou duas pessoas? Imaginem se essas pessoas estivessem no transporte coletivo ou utilizando uma bicicleta para se locomoverem. Mais espaço urbano para utilizarmos, menos poluição, mais gente saudável. Não é difícil imaginar.
Sigo querendo um espaço público menos dedicado aos carros e mais aos transportes coletivos e públicos (de fato), e com alternativas seguras para todos nós que usamos e pretendemos usar a bicicleta como um meio de transporte e não apenas como instrumento de lazer. Enquanto isso não acontece, a súplica é para que as pessoas de dentro de seus carros e com as mãos nos volantes nos respeitem mais e nos protejam no trânsito ao invés de nos atacarem.
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