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Arte de Santana até Brick Lane

por Adolfo Caboclo, 30 de novembro de 2012

Muito mais do que qualquer curso sobre artes que eu tenha feito ou museu que tenha visitado, a minha maior fonte de conhecimentos sobre arte é um livro que demorei mais de um ano pra terminar de ler, “A História da Arte”, de Ernst Gombrich. Um livro de 1950 que em sua versão mais recente possui atualizações do autor até mais ou menos os anos 80. O livro, que para muitos é reconhecido como a grande referência sobre o assunto, em nenhum momento fala sobre “arte urbana”.

Pesquisei em alguns sites para não falar muita besteira aqui (só algumas) e reparei uma confusão muito grande na cabeça das pessoas entre vandalismo e arte urbana, inclusive vi sites afirmando a existência de street art a centenas de anos atrás, outros falando que o movimento, assim como eu, é um “oitentista” da geração “Y”. Falarei aqui sobre o assunto sem um aporte teórico digno de teses, mas de forma coerente com a proposta do site, relatando a minha “experiência curiosa” sobre arte urbana.

Sou paulistano, criado na zona norte e lá estudei em um colégio católico. Naquela época um número considerável de jovens possuía o hábito de pichar paredes com giz de cera. Sob o nariz de padres e pais, jovens de uma tradicional escola eram brutalmente influenciados por uma cultura oriunda da periferia. Por muitos motivos. Um deles (longe de ser o principal, na minha modesta opinião) a necessidade de se expressar.

Não sei em qual momento, certamente em um ano que começava com “dois mil”, rabiscos e artes bem elaboradas começaram a brigar com mais frequência pelas paredes da vizinhança. Lembro que ao ir estudar inglês, ia até um ponto de ônibus, pouco mais longe que a primeira opção próxima de casa, para acompanhar a evolução da pintura de um graffiti  em um muro de colégio.

Desde (mais) jovem tenho o hábito de caminhar pela avenida Cruzeiro do Sul, quase sempre buscando chegar no Famoso Bar do Justo para dar um abraço nos amigos e matar a sede, e em uma caminhada em 2011 fiquei maravilhado ao ver as pilastras que sustentam os trilhos do metrô paulistano entre Santana e Carandiru perderem seus rabiscos e graffitis decadente e ganharem um frescor incrível. Esse local virou o MAAU-SP (Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo). Nesse momento entendi que a “Z.N.” é um dos berços da arte urbana na América do Sul.

Divulgação
O tempo rolou e no momento em que vi o corredor norte/sul de São Paulo ter boa parte grafitada e muitas unidades da empresa em que trabalhava terem suas fachadas de prédios pintadas por artistas renomados, vim parar em Londres. Terra do cara que julgo ser o maior artista da atualidade, Banksy, local onde a arte urbana pulsa em cada esquina. Acabei parando em uma Disneylândia de artistas urbanos.

Naturalmente comecei a “caçar” com a Fernanda algumas obras, principalmente quando minha amiga Priscila, que morava na Alemanha, nos visitou contando maravilhas sobre o atual cenário artístico urbano germânico.

Por fim, ontem saímos, com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça: mostrar no Não Só o Gato o que tá rolando em um dos maiores núcleos de arte urbana de Londres, a Brick Lane.

Ao chegar no local, vimos e estudamos o mapa da região tomando um espresso, traçamos um roteiro que julgávamos termos boas chances de encontrar obras e começamos a caminhada. Nosso primeiro achado foi em uma ruela, dessas descritas na matéria sobre o Jack, uma obra do Paul Don Smith, camarada que faz sua arte desde os anos 80 pelas ruas inglesas. Foi muito legal achar esse tipo de coisa.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Poucos momentos depois foi a hora de encontrarmos a marca do Stik em outra ruela. Entendemos que encontraríamos uma sequência incrível de artistas pela frente. Inclusive brasileiros, como o Chivitz, que grafita também na nossa querida zona norte, ali, do lado do Bar do Justo, e o Cranio.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Vimos muita coisa, nem da pra contar tudo. A arte em “8 bits” do Space Invader,  a parede quebrada formando um mural sem usar uma única gota de tinta do Vhils, as realistas rajadas de tinta do Jimmy Cochram, ficamos pequeninos na frente dos animais do Roa, as caras feias do Obey, os olhos famintos do Anthony Lister e muita coisa mais, além de, é claro, Banksy e Mr. Brainswash, mas estes já tiveram uma matéria só pra eles.

Espero que Sir Ernst Gombrich não se contorça no túmulo com o que eu irei falar agora. Realmente creio que com o passar dos anos, os livros de história da arte tratarão, assim como o impressionismo para o século XIX, a arte urbana como a fina flor artística do século XXI.

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Adolfo Caboclo | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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