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Arte urbana- Muros e caminhões de Belleville

por Fernanda Miranda, 18 de janeiro de 2013
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É frustrante admitir como caímos no papo e na propaganda alheia e muitas vezes acabamos por idealizar um lugar de uma maneira totalmente errada. A verdade é que para mim, ou melhor, para a minha ingênua e fantasiosa imaginação, Paris era a cidade luz, a cidade romântica, o lugar onde poderia gozar deliciosos momentos ao lado de intelectuais boêmios ao cenário da cidade mais linda do mundo, assim como Gil do filme “Meia-Noite em Paris” ao lado de Fitzgerald, Cole Porter e Hemingway, rs.

Porém os meus dias de turismo por lá fizeram eu me encantar não pela Monalisa no Louvre, nem pela caminhada à beira do Rio Sena, tampouco pela imponente Notre Dame que nos sugerem gostar. Para mim Paris foi encantador pelo o que nunca tinha ouvido falar, pelo seu lado alternativo, pelos bairros onde mal se vêem turistas, pelo seu lado às vezes feio, porém autêntico. E um desses lugares, sem dúvida, foi os arredores de Belleville, bairro que mais tarde descobri ser onde  Edith Piaf nasceu. Fomos até lá depois de pesquisar que é uma das regiões favoritas dos franceses para exporem sua arte na rua, assim como a região de Shoreditch é para os artistas de Londres.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Mas como a idéia do site é falar sobre a experiência, para falar do que senti em relação a arte urbana de Paris é preciso voltar alguns dias, o dia em que cheguei lá. A primeira impressão que tive da cidade foi dada no percurso para o centro da cidade, onde vi paredes intermináveis de grafites coloridos dos mais diversos tamanhos. Embora estivesse cansada depois de ter viajado mais de 9 horas dentro de um ônibus, fiquei encantada por tudo aquilo que estava vendo. E nos metrôs mais uma vez os grafites se repetiam fora e dentro dos túneis. Algum tempo depois comecei a reparar também que muitos caminhões e vans eram grafitados, coisa que nunca tinha visto em nenhuma outra cidade no mundo.

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E por fim no meu último dia e nas minhas últimas horas na cidade, quando finalmente fui visitar o cenário da arte urbana, fiquei encantada com essa região chamada Belleville que é a “síntese” de tudo que eu tinha visto até então. Já por perto comecei a ver os tais caminhões e vans grafitados estacionados na rua, e resolvi tirar foto de cada um que eu me deparasse, e o resultado foi mais de 20 fotos de diferentes veículos, e seria muito mais se a bateria da câmera não tivesse acabado. Achei muito interessante a idéia, ainda mais porque muitos desses caminhões não estavam abandonados, eram provavelmente pessoas que toparam em ter o próprio carro grafitado, dando uma cara muito legal de grafite em movimento na cidade.

Outra coisa que me chamou muita atenção foram os desenhos do artista Fred le Chevalier, com seu traço romântico e elegante. Como fui sem roteiro acabei não vendo algumas coisas que queria, porém tive a sorte de encontrar muitos dos desenhos de Chevalier por obra do acaso.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
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Mesnager é um que eu não conhecia, mas achei muito legal o conceito dos seus característicos homenzinhos dançando, brincando com os pássaros e descansando na beira de um rio em paredes numa agitada cidade como Paris.

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Isso sem falar que estava na terra natal do Space Invader, o cara que cobre muros em cidades do mundo inteiro com azulejos em forma de jogos de videogame em 8 bits. Se não é difícil achar seus azulejos em São Paulo, imagina em Paris, onde há mais de mil “invasores”. Tinha até um bem bonitão na rua do hostel em que eu estava hospedada.

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Se por um lado me decepcionei com algumas das minhas expectativas, por outro Paris me presenteou com o que não esperava, como ruas recheadas de muros e artistas incríveis. A arte urbana é hoje um dos pilares que me faz entender uma cidade, e Paris nesse quesito anda muito bem representada não só pelos artistas citados, mas também por outros como JR (que tem um trabalho muito interessante na favela do Rio de Janeiro) e o C215.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato

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Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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