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Cooperifa: a união da poesia na periferia

por Fernanda Miranda, 17 de janeiro de 2014
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São Paulo, com sua área de 1.522,986 km2, e mais de 11 milhões de pessoas vivendo nela, é a maior cidade do Brasil. Portanto, nada mais justo do que a máxima de que existem várias cidades dentro da mesma São Paulo, porque, de fato, vivemos num lugar que caberia a população de 11 Campinas e 22 São José dos Campos. Deste modo, a cidade abriga as mais diversas culturas, sotaques, etnias, costumes e classes — da “italianice” do Bixiga aos bairros que concentram forte imigração judaica, e assim por diante.

E claro, sendo uma cidade tão imensa e ao mesmo tempo tão viva, é difícil acompanhar tudo o que borbulha por aí. Mas se tem um lugar em São Paulo que sempre borbulhou, sempre me instigou e sempre me chamou a atenção pela cultura tão, mas tão pulsante, este lugar é o Capão Redondo, na zona sul. Além do Gato, trabalho num site que garimpa iniciativas bacanas dos cidadãos paulistanos, e é impressionante como o Capão é sempre protagonista dos eventos mais legais. E o engraçado é que muitas das pessoas que moram do lado de cá do rio (na perspectiva de quem está no centro), acham que o Capão fica do outro lado do mundo. E de fato, para algumas pessoas, Miami é muito mais perto do que o Capão, não é mesmo? :P

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Fato é que, para quem não conhece, perde, mas perde muito, por não reservar umas horinhas para ir até lá. Principalmente às quartas-feiras. Por isso, nessa última quarta, chacoalhei por cerca de uma hora no busão (ah, se não fossem os corredores de ônibus…), para ir ao encontro de umas noites da semana mais esperadas na região: quando é celebrada a poesia. Poesia pura, poesia que vem dos poros, que vem da boca das idosas e dos jovens indignados com as reações aos “rolêzinhos”. Poesia que pode ser apreciada na rua Bartolomeu dos Santos, número 797, estabelecimento mais conhecido como o Bar do Zé Batidão. O Zé Batidão, no caso, é um senhor que te recebe com um sorriso no rosto, oferecendo-lhe um copo de vinho. E o evento da noite é o Sarau do Cooperifa, do magnífico poeta Sérgio Vaz.

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Na noite desta última quarta-feira foi a primeira edição do ano do sarau. O bar estava lotado. Lotado de sorrisos e de pessoas acomodadas em suas cadeiras, acompanhadas de petiscos e cervejas, na espera da poesia começar. A poesia começou, e a noite, mesmo com o pé d’água lá fora, foi linda. E muito emocionante. Principalmente quando o microfone foi pego pelas mãos da dona Edite, uma senhorinha com mais de 80 anos. Ela recitou o seguinte poema de Vaz, chamado “Porém”:

Queria ter vivido melhor,
Porém a mediocridade sempre me foi farta e generosa
Nos caminhos que escolhi para viver.

Queria ter sido mais alegre,
Porém a tristeza sempre foi companheira fiel
Nos dias intermináveis de abandono.

Queria ter amado mais as pessoas que conheci
Ou que fingi conhecer,
Porém na maioria das vezes, eu também não me conhecia.

Queria ter andado mais livre,
Porém, algemado à ignorância, perdi muito tempo
Tentando voar sem sequer saber andar.

(Leia a íntegra aqui).

Além disso, a noite do Cooperifa também recebeu o lançamento do livro “Pretextos de Mulheres Negras”, uma antologia poética com 22 autoras negras. Muito lindo também (saiba mais aqui). Aliás, como tudo que vi ali. Mas só indo para entender. Se eu pudesse resumir o que é o Cooperifa, eu cantaria essa mesma música que todos que estavam presentes — ao coro — cantaram na última quarta: “Uh Cooperifa meu quilombo cultural. É poesia literatura marginal. Uh Cooperifa no risco da caneta, periferia academia das letras!!!!”

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Fotos por Fernanda Miranda

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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