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“Decepcionismo” e impressionismo

por Adolfo Caboclo, 25 de janeiro de 2013

Durante meus efêmeros “20 e poucos anos” tive algumas grandes decepções. Aprendi a tentar relevar as que foram geradas por pessoas, pois qualquer exemplar da raça humana, justamente por estar em constante mudança, tende a decepcionar, assim como tantas vezes já decepcionei. Se a decepção por pessoas a gente releva e reflete, lugares a gente “mete o pau”, então eu falo sem medo de me arrepender que eu quero que se exploda a “Vila não sei das quantas” que toca country e sertanejo que não são nem country e nem sertanejo. E o “pagode de não sei quem”, o espaço que toca pagode que não é pagode e samba que não é samba. Na minha lista também entra a fundação que tem sede na área mais nobre da cidade. Essa usa a Lei Rouanet pra “fomentar a cultura da sociedade” no lugar onde as pessoas que mais necessitam de cultura não frequentam, francamente! Também tem o museu e a galeria “shopping center”, aquele que tem que pagar um montão de dinheiro pra entrar, pode tirar foto dentro e a loja de suvenires bomba. Por sinal estive em um museu desse tipo a pouco tempo atrás. Em Paris. Chamado Louvre.

O Louvre, em Paris, é o museu mais frequentado do mundo enquanto a National Gallery, em Londres, por exemplo, é o quarto. Enquanto o museu britânico tem entrada franca, pessoas apreciando a arte e não tirando fotos na frente de quadros, o Louvre é o oposto em todos os aspectos. Durante minha visita ao museu parisiense eu simplesmente não consegui apreciar o acervo museológico mais impressionante do mundo pelo simples fato deste ser um museu com estrutura e frequentadores que não permitem isso. Como eu me decepcionei. O coração apertou. Juro.

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato
Saí pelas ruas da cidade luz, subi as ladeiras boêmias do Montmatre e desnorteado pensei: “Preciso ver a Paris que sempre sonhei. A Paris do amor pelo saber, pela arte… Preciso de uma luz”. E não é que a luz apareceu? A luz de uma casinha, uma casinha no meio de uma ladeira estreita. Um atelier que, mesmo sendo tarde da noite continuava aberto, e lá dentro um senhorzinho retocava uma escultura. Ao entrar nesse atelier descobri que esse senhor se chama Robert Ricart e ele, mesmo sem saber falar inglês, muito menos português, nos recebeu muito bem. Uma senhora que parecia ser sua esposa foi nossa tradutora e depois de alguns minutos de um caloroso papo em que descobri que ele era um legítimo impressionista francês (oh!), não resisti e desabafei! Ricart teve que escutar sobre a decepção que o Louvre me proporcionou naquela tarde. Foi aí que ele me falou que seu museu favorito em Paris é o d’Orsay.

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato
Fato curioso é que a Wikipedia me disse que em 2009 o Louvre recebeu 8.500.000 visitantes, enquanto o Museu de Orsay recebeu 3.000.000, ou seja, quase que a cada 3 pessoas que foram no Louvre, apenas uma atravessou o Rio Sena pre ver o d`Orsay.

Claro que fui conferir a indicação do Robert e no dia que fui a entrada em d’Orsay era gratuita, e, vejam só, ninguém tirava foto dos quadros! O impressionista parisiense Robert me indicou um lugar com um acervo incrível de seus antecessores. Monet, Cézanne, Manet, Degas, Pissarro e cia. Vi uma sala com obras de Van Gogh que me deram a maior emoção. No final das contas Paris não me decepcionou, pelo menos naquela tarde…

Adolfo Caboclo | Não Só o Gato

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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