Demos um rolê num festival pré-histórico na República Tcheca
Na cidade Český Krumlov uma galera passa dias trajando pele e dormindo em ocas.
Na estrada, cruzando o coração da República Tcheca, meus guias, um casal de amigos locais, me explicavam sobre um emaranhado de detalhe sobre o seu país: a época certa para colher cogumelos, detalhes sobre jogos entre o Sparta e o Slavia, peculiaridades sobre suas melhores cervejas e receitas de carne de veado. Me faziam experimentar seu doce mais tradicional, o trdelnik, envolto de açúcar, entupido de gostosuras e fizeram questão de me apresentar a casa de sua família, casa pré-fabricada, doce lar de madeira envolto no bosque. Por lá se comia a truta pescada na hora com a batata que saia da terra.
Os tchecos, Martin e Tereza, se esforçavam ao máximo para agradar. Dirigiram até uma cidadezinha medieval, Český Krumlov, na Boêmia do Sul. Por lá se pode encontrar algumas das mais preciosas e tradicionais marionetes tchecas, crianças brincam no riacho que a reparte o vilarejo e também é nesse local que habita um dos seres mais melancólicos que meus olhos já viram: o pobre urso no vão que circunda o castelo da cidade. Triste besta.
Lá eu vivia em um folclore vivo, um conto fantástico. O que para mim era sonho, aos meus anfitriões era rotina: nada parecia os impressionar enquanto tudo parecia massacrar minha realidade tupiniquim, até que, pela primeira vez, o Martin mudou de fisionomia diante que algo que acontecia naquele dia.
Era um campo aberto. Fogueiras e ossos se perdiam pelos prados enquanto homens-feras assavam carne. Eram homens envoltos em peles, com a cara pintada. Batucavam tambor, alguns sassaricavam em círculos. Ossos eram trombones, cornetas. Fornos de barro lembravam cupinzeiros. Logo percebo que eles dormiam em ocas aos fundos. Essas dezenas de homens-feras eram participantes do festival de tradições pré-históricas de Český Krumlov. Estavam lá já faziam alguns dias, curtindo o frio e as estrelas da Europa Central, antiga Cortina de Ferro. Surpreendendo os que passam por lá sonhando e também de forma rotineira.
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