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Gonzagão – A Lenda: o nordeste musicado

por Marina Ribeiro, 16 de agosto de 2013
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Sotaque carregado, xote, forró e baião, música tocada ao vivo com o tema do sertão… Poderia ser um boteco pé sujo de beira de estrada, no labiríntico interior nordestino, mas é “Gonzagão – A Lenda”, musical brasileiríssimo nas últimas semanas em cartaz no Rio de Janeiro. No palco, a história de Luiz Gonzaga contada e cantada de maneira romântica e folclórica, interpretada por oito atores homens que se revezam em diferentes papéis, acompanhados de uma única moçoila.

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Confesso que estava um pouco apreensiva quando fui assistir ao espetáculo – amo teatro, mas musical não é uma de suas linguagens que mais me pegam de jeito. Logo nos primeiros minutos de performance, no entanto, me sentei mais confortavelmente na cadeira e relaxei: percebi que aquela seria uma experiência a se aproveitar. Certamente a temática nordestina mexeu com meu coraçãozinho baiano, orgulhoso e saudoso, mas não parou por aí.

“Gonzagão – A Lenda” é um cordel em movimento, acontecendo ao vivo, bem ali na sua frente!  E é dirigido por João Falcão, recifense conhecedor das idiossincrasias sertanejas. A trilha, executada ao vivo por músicos que – em certos momentos – chegam a ofuscar os atores, é puro show de talento. Os batuques percussivos contagiam, impossível segurar aquela balançadinha de pé. Quando fui, a participação da plateia estava das mais intensas, a ponto de incomodar um pouco: essa interação é essencial e pode se dar de várias formas, bater palmas de cinco em cinco minutos ficou meio forçado e me deu a impressão de desconcentrar os atores um pouquito.

Chegada em moda que sou, não pude deixar de notar o figurino impecável. O estilo “sertanejo-retirante-lampiônico” virou fantasia, mas com toques seguros de realidade. A moça de vestido rodado usava short de paetês por baixo da saia, e o artista da trupe itinerante que aparece na trama vestia jaqueta militar sobre suas roupas castigadas de vida cigana. As firulas não ficaram over, mas na medida para reconhecermos e entendermos quem são aquelas pessoas sem perder o encanto. Pra mim, o ponto alto do espetáculo.

Como uma vez ouvi em uma peça que assisti: “a arte não precisa imitar a vida, isso é banal”, em Gonzagão pude ver a história de um Rei do Baião, vindo do sertão pernambucano e que existiu de verdade sendo contada com imenso ar de fantasia e imaginação. Menção à atuação e ao trabalho de corpo impressionante do elenco e ao canto sem falhas de todos. Vale a experiência, essa de ver um molde tão gringo de espetáculo sendo apropriado pelos lampiões da nossa cultura! Saí de lá homesick, “hoje longe, muitas léguas…”.

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Fotos: Facebook do “Gonzagão  – A Lenda”

Marina Ribeiro

Marina Ribeiro é jornalista e atriz em formação. Ama o teatro e acredita na comunicação em suas mais diversas manifestações – a moda é uma das favoritas. Soteropolitana, morou em São Paulo durante 4 anos e agora respira ares cariocas. No Instagram, ela é @marinaribei.

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