Assuntos

Keep Walking Dead Brasil

por Adolfo Caboclo, 11 de junho de 2013
, , ,

Tem vezes que alguns colegas e amigos acham que sou maluco, ou então acreditam que estou apenas querendo ser polêmico (talvez mala). Principalmente quando falo de cultura em geral. É assim quando não vejo tanta profundidade em alguns textos da Clarice Lispector ou acho a Mona Lisa uma composição “sem sal”. Também é assim quando comento que, na minha opinião, o Louvre é algo muito parecido com um shopping center e vou ao delírio quando o Reginaldo Rossi fala que “a diferença entre o brega e o chique só começou a existir depois da década de 60. Quem falasse mal do regime militar era chique”. Agora, o maior índice de olhares de desdenho ou desaprovação que recebi são oriundos dos momentos que falo: “filme de zumbi é coisa séria, seríssima”.

E não é? Eu vejo tanta gente intelectualizada discutindo sobre sistemas de governo e políticas que seriam a salvação da humanidade, vejo o jurista estufando o peito e falando sobre a sua importância perante a ordem. Mas o que aconteceria se vivêssemos em um caos? Se estivéssemos entranhados na falência de toda e qualquer ordem social? O que nos restaria?

Em 1995 José Saramargo publicou o livro “Ensaio Sobre a Cegueira” e mais uma vez inúmeras pessoas ficaram encantadas com os parágrafos redigidos pelo escritor. Parágrafos de uma narrativa sobre uma epidemia mundial de cegueira que resultou em um planeta sem ordem, com pessoas mostrando seu lado mais perverso. Mas a ideia de vermos homens desmascarando toda a sua podridão não é nova. O diretor George Romero fez isso em inúmeros filmes de zumbis, desde 1968, com o seu aclamado “A Noite dos Mortos-Vivos” até 2009, com “A Ilha dos Mortos”. O que faz a história de Saramago ser mais especial do que as de George Romero? A discussão social não é muito parecida?

photo (68)Por isso que falo que filme de zumbi é coisa séria. Atualmente, uma grande mania é assistir The Walking Dead, série com uma qualidade ímpar na produção, que veio dos também elogiáveis quadrinhos com o mesmo nome. Aí a gente encontra uma parte de seus espectadores que ao assistirem veem apenas um monte de sangue e cérebros voando e uma outra parte que vê (além do sangue e cérebros) uma série de signos lá. Uma semiótica incrível, fotografias interessantíssimas e personagens bem (des)construídos psicologicamente. Por fruto desse segundo “pelotão” de espectadores que conheci o Keep Walking Dead Brasil (sacou?! Keep Walking?! rs), uma exposição com pinturas do universo zumbi idealizado por 19 artistas.

Essa exposição tá rolando até o dia 21 de junho, no Plein Air Studio, lugar que conheci ontem, depois de uma caminhada descendo a Avenida Rebouças e entrando na Rua Cristiano Viana, número 180 para ser exato. Quem me recebeu lá foi o Alexandre Reider, que junto com o Charles Oak, que não tive a oportunidade de conhecer, idealizou a exposição e “recrutou” o time de artistas que ilustrou um acervo incrível de walkers. Estes são: Anderson Nascimento, Avelino Canato, Celso Mathias, Davi Calil, George Mend, Greg Tochini, Julia Bax, Léodolfini, Maike Bispo, Marcus Claudio, Maurício Takiguthi, Dwari, Nilo de Medinaceli, Paulo Frade, Rod Pereira ,Rodrigo Idalino, além dos próprios Alexandre e Charles.

Algumas cenas clássicas do seriado são possíveis de encontrarmos lá, como o valentão Merle berrando algemado no topo de um edifício (1ª temporada).

photo (74)

Os jovens Carl e Sofia escondidos debaixo de um carro enquanto um zumbi passa (2ª temporada).

photo (67)

E o momento que o grupo de Rick abre um celeiro cheio de zumbis (2ª temporada) – porém muito se engana quem acha que o a exposição fala “apenas” de Walking Dead. photo (71)Lá também é possível encontrar uma infinidade de cenas e referências de outros filmes do gênero e até mesmo críticas sociais, como um quadro de uma série de zumbis olhando para o celular enquanto um jovem comum lê um livro, durante uma viagem de ônibus.

Para os fãs do gênero, eu recomendo darem uma conferida nessa exposição, para os fãs das artes plásticas, também! Tecnicamente o nível das obras é bem alto, todos os quadros demonstram um grande domínio de várias técnicas. Tanto que não resisti e acabei comprando uma tela impressa lá!

Agora, o que mais me deixa triste é saber que justamente as pessoas que não me levam a sério quando eu falo que zumbi é coisa séria, são as que não vão ler essa matéria, preferem ficar como zumbis na frente da novela, tendo seus cérebros comidos rs….

photo (73)

photo (75)

photo (69) photo (70)

photo (72)

 

Fotos por Adolfo Martins- Iphone 4S

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

More Posts

Comentários