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Openbare Bibliotheek

por Fernanda Miranda, 9 de abril de 2013
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Para mim sempre foi muito estranho ouvir alguém dizer que não gosta de livros. Nada contra isso, afinal a gente não vai ter o tempo necessário para aproveitar todas as coisas encantadoras e dignas de serem apreciadas nessa nossa tão breve vida. Temos escolhas a serem feitas. Mas acredito que todos buscam em alguma forma de arte o seu refúgio, a sua libertação. Gosto muito de uma frase do Ferreira Gullar em que ele diz: “Queremos a sensatez que nos protege, mas não resistimos à loucura que arrebata. E, por isso, inventamos a arte, que nos permite experimentar a loucura sem correr o risco de irmos parar num hospício”. Pode ser também que aquele que não goste de livros ainda não encontrou um ideal, que lhe revele sentido e converse com suas inquietações. Não sei.  Ideias soltas só para tentar entender quem não gosta daquilo que eu mais amo, a palavra escrita. E como amo. E como sempre amei tudo que se relacione ao mundo dos livros.

b-1Adoro ir para a casa de amigos e dar uma fuçada em suas prateleiras com autores e títulos dos mais diversos, de sua escolha particular. Saber os livros que meus amigos leem me diz muito sobre eles. A livraria, então, acredito que seja um dos lugares favoritos dos amantes dos livros. Em contrapartida eu nunca gostei de bibliotecas, sempre as achei frias, autoritárias e nada convidativas (não dá nem para se mexer numa cadeira direito que já chega uma velhinha fazendo “Shiiiuuuu”).  Mas pensei assim até conhecer a Openbare Bibliotheek, uma biblioteca pública em Amsterdã que é a maior de toda a Europa.

Construída em 2007 a biblioteca, que fica pertinho da Estação Central de Amsterdã e de frente para um rio, parece muito mais um museu de design ou algo assim. A ideia das autoridades de Amsterdã era que lá não fosse só um “armazém de livros”, mas sim um centro de aprendizagem, fonte de informação, lugar de expressão e entretenimento. Ponto pra eles!

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Perguntei para todos os holandesesque conheço sobre o lugar, e todos disseram que vão até lá pelo menos uma vez por semana. Porque lá é convidativo, é moderno, tem quase 2 milhões de livros, mas também tem muita coisa além dos livros. Ao entrar, a arquitetura foi a primeira coisa que me chamou atenção. Aquelas colunas brancas enormes, as prateleiras circulares com os infinitos livros, as cadeiras confortáveis, os puffs. Depois reparei na interminável mesa com intermináveis computadores da Apple – mais tarde iria descobrir que são centenas e centenas de iMacs distribuídos nos 10 andares do edifício. Subindo de andar em andar, fui descobrindo que há espaços dedicados somente para música, para filmes (deu vontade de passar o resto da viagem lá. Milhares de títulos de filmes, sobre os mais diversos temas, muito, muito lindo) e tem até um espaço pra criançada. A maneira mais inteligente que já conheci de atrair uma população ao universo dos livros.

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Chegando no sétimo andar tive duas lindas surpresas: o restaurante La Place e a vista privilegiada daquele lugar. É uma vista que sintetiza a beleza da cidade. O rio e os predinhos típicos holandeses ao fundo, que formam um grande muro que sugere o delicioso labirinto a ser explorado que é Amsterdã. Voltando ao restaurante, depois de ser hipnotizada pela vista, lá é um grande salão onde você se depara não só com estudantes, mas também famílias, velhinhos, crianças, turistas. Um lugar totalmente democrático. Com preço democrático. O restaurante na verdade é tipo de uma “feirinha”, onde em cada espaço que é como se fosse uma tenda há diferentes tipos de comida. A comida é exposta em cestas, você escolhe os ingredientes que quer e entrega para o cozinheiro preparar.

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Mesmo tendo ficado pouco tempo em Amsterdam, eu tive que ir lá mais de uma vez para entender a atmosfera e a importância desse lugar para quem vive por lá, além de, claro, ter amado aquele mundo de possibilidades. Para o leitor voraz até o comilão, o Openbare Bibliotheek é muito mais do que uma biblioteca.

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Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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