Para comer, ver e pensar
Madrid é uma cidade que vai se revelando aos poucos. Não entendia quando alguém comparava Madrid a São Paulo e Barcelona ao Rio de Janeiro, mas hoje, na minha interpretação, Madrid é igual a capital paulista por um motivo: ela não impressiona tanto assim o turista, mas quando se mora aqui você vai descobrindo um lugar especial, um bairro que te encanta, e aos poucos a cidade vai fazendo sentido e começa a te conquistar.
Um desses lugares que descobri e me conquistou é o Círculo de Bellas Artes, no coração de Madrid. Nos meus primeiros dias aqui passei na frente desse edifício tantas vezes, porém mal o notei – estava “cega” diante de tanta informação nova. Mas acabei descobrindo que esse lugar abriga um cinema, teatro, exposições, um belo de um restaurante, além de uma vista privilegiada da cidade. Uma descrição nada fraca.
Para entrar no edifício é preciso desembolsar 3 euros, com a exposição e a visita ao terraço incluso. Chegamos ao restaurante na “hora do rush”, e me vi diante de um salão muito tradicional, com estátuas e quadros decorando o espaço, que mesmo lotado não perdia o seu charme. A visita ao terraço – no sétimo e último andar do edifício – eu não estava esperando muito, afinal, para quem é de São Paulo como eu, um prédio de sete andares não é nada relevante. Mas aí chegando lá eu lembrei que Madrid é uma cidade plana com pouquíssimos prédios altos. Sim, eu realmente estava tendo uma visão privilegiada da cidade. Que lindo. Que paz. Acho que as fotos explicam isso muito melhor do que eu.
Por fim fomos ver uma exposição em uma das salas do edifício, o “Elmyr de Hory – Proyecto Fake ”. Elmyr de Hory foi um dos grandes falsificadores de obra de arte na história. Ele chegou a enganar por mais de 20 anos alguns museus, que expuseram suas obras achando que se tratava de um autêntico Picasso, Matisse, etc. Quando descobriram a mentira, o caso de Hory foi considerado um escândalo, ampliando a discussão e reflexão sobre o conceito de autoria na criação artística na época – que não deixa de ser atual e polêmico até hoje. “Eu tenho o talento, talvez um pouco diabólico, de poder entrar na alma destes pintores. Porque insisto que não copio, mas sim trato de me introduzir no espírito do artista que admiro”, disse ele. Esse é só um exemplo da rica função artística das salas do Círculo, que já expôs Robert Capa, Walter Benjamin, entre outros.
Fomos somente em três da vasta programação cultural distribuída em seus sete andares. Inclusive (tristemente) descobri que perdi o seu tradicional baile de máscaras realizado na época do carnaval madrileño, que foi iniciado em 1881. Que vacilo!
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