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São Paulo Companhia de Dança pinta o balé de verde e amarelo

por Estela Marcondes, 17 de dezembro de 2013
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Apresentação de Romeu e Julieta, no Teatro Sérgio Cardoso

Muito provavelmente você compartilhou mensagens de agradecimentos aos seus professores no dia 15 de Outubro. Com certeza já ouviu falar no Dia do Médico, no Dia do Advogado e até mesmo no “Dia de Todos os Santos”. Espero fortemente estar enganada, mas talvez você não veja nenhuma mensagem bonita durante a propaganda no telejornal ou uma homenagem em um painel do metrô no próximo dia 21 — Dia do Atleta —, e dificilmente tenha visto homenagens no dia 23 de novembro, dia do Profissional da Dança do Estado de São Paulo e Dia da Dança Clássica. Mas aqui no Não Só o Gato, não poderíamos deixar isso passar em branco…

Não é a primeira vez que a dança compõe o cenário de uma experiência curiosa contada no NSG. Em agosto, a colunista Fernanda Miranda falou da bailarina Karen Ribeiro. Há uns dois meses, contei da linda apresentação do Balé da Cidade de São Paulo, comemorando seu aniversário na Galeria Olido. Mas é engraçado perceber como muita gente ainda torce o nariz quando ouve falar em balé, palavra que até ao pronunciar requer certo movimento bucal de “bico” e muitas vezes é lembrada como  uma arte distante e não condizente com a cultura brasileira. Confesso que eu mesma já caí nesta armadilha, “separando” o balé, como se fosse uma “entidade” à parte dos outros estilos de dança.

Mas você sabia que “balé” – palavra originada do Ballet, no Francês – vem de balleto, termo italiano que é o diminutivo de ballo (dança), que vem do latim (ballare), que por sua vez tem origem grega “βαλλίζω” (ballizo), significando todas elas DANÇAR?

É incrível perceber como este instrumento de expressão corporal e arte, com influências de tantas culturas, se traveste de verde e amarelo, com as marcas mais típicas do povo brasileiro. Na semana passada, a São Paulo Companhia de Dança (SPCD) provou com maestria tudo isso, mostrando a flexibilidade necessária para ser permeável às obras internacionais e influentes, sem perder o que há de mais marcante da “cara” brasileira.

Poucos dias após apresentarem a remontagem do clássico “Romeu e Julieta”, numa versão criada pelo coreógrafo italiano Giovanni Di Palma, sobre sapatilhas de pontas, o mesmo Teatro Sérgio Cardoso foi palco para o “Ateliê de Coreógrafos Brasileiros”. Segundo a SPCD, este é um programa que demonstra o Brasil refletido nos movimentos dos bailarinos, ampliando a difusão e o incentivo à produção da dança brasileira, pelo olhar de cada criador.

Não era permitido fotografar. Por isso, fica o registro apenas dos agradecimentos dos bailarinos Não era permitido fotografar. Por isso, fica o registro apenas dos agradecimentos dos bailarinos

spcd

Com a plateia cheia e com a possibilidade de pedir fones para audiodescrição (para aqueles que tivessem dificuldades visuais, por exemplo), a apresentação iniciou-se com um vídeo bastante interessante explicando a motivação de cada coreografia, depoimentos dos bailarinos e coreógrafos e diversas cenas dos infinitos ensaios. Mais uma vez, me diverti observando as feições do público (bastante diversificado, por sinal) percebendo que aqueles “seres” levíssimos, expressivos e aparentemente “não humanos”, são de carne e osso — tão semelhantes a cada um dos que estavam do outro lado do palco.

spcd6Dentre as danças apresentadas, foi destaque a lindíssima coreografia “VADIANDO”, uma estreia da Companhia com criação de Ana Vitória, inspirada pelo filme “Vadiação” (de 1954), que mostrava como a capoeira passou de luta de guerra para forma de dança popular no Brasil. Ao final da apresentação, capoeiristas presentearam o público com o harmônico som do berimbau, em diversos ambientes do Teatro Sérgio Cardoso.

Mas uma bailarina, em especial, fez meus olhos marejarem enquanto eu e toda a plateia aplaudíamos em pé a SPCD. Danyla Bezerra foi minha colega das aulas de dança na querida “Escola de Ballet Júlia Pyles”, em Pindamonhangaba. Depois, foi dançar no exterior e no ano passado voltou para o Brasil. Pedi para a Dany contar um pouco da sua trajetória como bailarina para o NSG. Em nome dela, registro esta homenagem aos profissionais da dança, mostrando que são verdadeiros atletas, com muitas horas de ensaio para encantarem com leveza e perfeição. Ela ainda é a “prova viva” da combinação harmônica entre influências estrangeiras da dança e os traços mais marcantes dos brasileiros e, principalmente, de que o corpo do dançarino expressa, em última análise, o que tem por dentro…

“Comecei a dançar aos 5 anos quando morava no Rio de janeiro. Depois, quando voltei para Pindamonhangaba, continuei no Ballet Júlia Pyles até os 15 anos. Acho que eu sempre soube que nunca iria querer parar de dançar. Mas tive que fazer essa escolha bem cedo…Quando me mudei para Curitiba, ainda aos 15 anos, para treinar na Escola de Danças Teatro Guaíra, tive a certeza de que queria ser bailarina profissional.

Entre Pinda e o exterior, o que me ajudou muito foi ter morado em Curitiba sozinha por 2 anos e meio. E, é claro, o apoio dos meus pais. Eu estava estagiando no Balé Teatro Guaíra quando minha professora me incentivou a buscar mais. Eu enviei um vídeo e consegui uma vaga para o curso de verão do American Ballet Theater. Esse foi o meu primeiro contato com o mundo do balé lá fora e me encantou. Principalmente por sentir o valor que as pessoas dão a essa forma de arte. De lá, entrei para a Miami City Ballet School, onde estudei por 2 anos, aperfeiçoando a técnica clássica. E quando comecei a pensar em voltar consegui uma bolsa para o programa de trainee do Boston Ballet. Infelizmente, tive problemas para conseguir o visto de trabalho depois de um ano em Boston, mas felizmente eles tinham me mandado para um curso de verão no Canadá, de onde surgiu o contrato com o National Ballet of Canada para o ano seguinte. Dancei lá por dois anos e voltei pra cá em 2012.

Decidi voltar porque, mesmo alcançando algo que eu não imaginava que conseguiria (fazer parte do corpo de baile de uma companhia tão grande) eu não estava feliz com os outros aspectos da minha vida. Sentia falta dessa cultura maravilhosa que temos no Brasil!!Acho que sair de casa tão cedo me fez sentir ainda mais falta da minha família e me fez querer poder estar perto deles, tê-los na plateia enquanto danço.

É engraçado como esse “não estar feliz” foi refletindo na minha dança. Eu acredito que o palco é transparente..não conseguimos esconder quem somos e o que sentimos quando estamos nele.

 Depois de 3 audições para a SPCD, finalmente consegui entrar agora em Junho! A nossa rotina é bem puxada. Temos aula de balé todos os dias das 10h às 11h15 e ensaios das 11h30 às 17h ou 18h com intervalo para o almoço. Mas os ensaios dependem dos balés que estamos participando.

Nós tivemos uma audição interna para a escolha do elenco de Vadiando (como acontece para toda coreografia nova na Companhia). E essa foi particularmente mais pesada para todos nós porque a Ana Vitória (coreógrafa) trouxe um professor e tivemos uma aula de capoeira. A Companhia está com um número bem grande de bailarinos no momento, somos mais de 40, então não precisamos aprender todas as coreografias de cada espetáculo. Mas sempre temos de 2 a 3 elencos para cada coreografia, caso aconteça alguma coisa.

Futuros planos? Não costumo pensar muito adiante…deixo a vida me levar e vou agarrando as oportunidades”.

Danyla Bezerra em “Vadiando” Danyla Bezerra em “Vadiando”

Fotos por Gustavo Furuta e São Paulo Companhia de Dança

 

Estela Marcondes

Estela Marcondes é Terapeuta Ocupacional, acompanhante terapêutica e encantada pelas "linguagens" do mundo, além da verbal. Algumas vezes pensa que a palavra foi inventada por alguém que estava com preguiça de usar os outros sentidos para dizer como se sentia. Adora LIBRAS, dança, trabalhos manuais, música, observar demonstrações explícitas de carinho e elefantes!

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