Sobre Arte e Liberdade de Expressão
O momento não poderia ser mais adequado para o Rio de Janeiro receber a exposição América do Sul – A Pop Arte das Contradições, em cartaz até 14 de agosto no MAM Rio.
Nos últimos meses, vimos um ativismo político há décadas adormecido ganhar vida e diversas reivindicações reverberarem pelas ruas e pelas mídias sociais criando o momento perfeito de reflexão sobre muitos temas. Inclusive sobre como a arte pode simbolizar uma determinada época, representando também uma importante forma de ativismo político.
A mostra explora a produção artística do Brasil e da Argentina na década de 60, refletindo seus contextos sociais e políticos. Logo os anos 60, uma década tão inspiradora e devastadora em tantos níveis.
Os anos 60 foram os anos revolucionários, que não haviam de ser outra coisa se não transgressores e rebeldes. Revolução Cubana, construção do Muro de Berlim, Guerra do Vietnã, a astuciosa construção de Brasília e a instauração da ditadura militar no Brasil. Soma-se ainda o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e da publicidade, a luta pela liberdade sexual e o movimento hippie. Além de claro, uma forte censura e perseguição política. O contexto de tensão e conflitos sociais era forte não só na América Latina, mas sim, em todo o mundo.
Um pouco antes do início da década, surgia na Inglaterra, um movimento artístico chamado pop art, bastante conhecido através do trabalho de artistas como Roy Lichtenstein e Andy Warhol. E a proposta da pop art era utilizar imagens da sociedade de consumo e da cultura popular com o intuito de criticar o modo de vida dos americanos, retratando histórias em quadrinhos, propagandas e objetos produzidos em massa.
Esse movimento se espalhou pelo Brasil, sofrendo uma certa adaptação, por conta do contexto de repressão na época. Os artistas brasileiros aderiram apenas à forma e à técnica da pop art, registrando sua opinião crítica às obras e sua insatisfação com a censura do regime militar.
Já na Argentina, além da estética pop art da década, artistas como Marta Minujin projetavam para o mundo obras e performances críticas. É o caso da performance “Leyendo las Noticias en el Río de la Plata”, de 1961. Onde envolvida em papel de jornal, ela se submergia no rio denunciando as falácias da mídia. Em tempos de Mídia Ninja e de jornalismo independente colaborativo, a denúncia de Maria Minujin não poderia ser mais contemporânea.
Como bem definido pelo curador da mostra, Paulo Herkenhoff, “A arte torna-se trincheira de resistência sob a forma de guerrilha simbólica”. E a exposição reflete justamente isso, a interseção entre conflitos de uma época não tão distante e a luta artística resistente. Além de inspirar, esses trabalhos apontam a importância para um direito, muitas vezes obscuramente negligenciado: O da liberdade de expressão.
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