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Um teatro alternativo em Barcelona

por Fernanda Miranda, 3 de maio de 2013
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Às vezes não nos damos conta de como a nossa vida está totalmente dependente da tecnologia. Estamos tão acostumados em ter um celular ligado e conectado à internet sete dias por semana, tão engolidos pela vida onde o normal é estar disponível 24 horas ao dia, que sim, até paramos para refletir sobre a gravidade e as consequências disso de vez em quando, mas de nada mudamos, e o pior, nem queremos mudar. Porque é muito conveniente ter um aparelho que, de certa forma, nos dá a garantia de saber sobre a vida do outro e que, para todos os momentos indesejáveis – como esperar um ônibus, ou estar num jantar desagradável – faz com um simples de um “touch” aquela condição se tornar pelo menos mais um pouco suportável. E eu só me dei conta disso, da maneira que deveria, quando estava um dia em Barcelona sozinha, com um celular sem internet e sem crédito, desprovida daquela garantia de segurança que o celular nos dá.  Como eu ia chegar ao destino que queria, o Antic Teatre, sem o Google Maps? Sim, eu até tinha um mapa da cidade, mas ele dava destaque principalmente aos passeios turísticos, e além disso a rua que eu estava procurando era tão pequena que nem aparecia o nome naquele labirinto de ruas. Saí perguntando: “Oi, por favor, você conhece o Antic Teatre? É um teatro que fica na rua Verdaguer i Callís, sei que é no centro da cidade.” E claro que, com tão pouca  informação, todos pediam desculpa e saíam andando. Até que, cansada, parei num restaurante, pedi um chá, e avistei um jovem estiloso lendo El País na mesa ao lado. Repeti a pergunta, e como suspeitei, ele disse: “Ah, claro, aquele teatro alternativo. Não é muito longe daqui”.

A rua, quando cheguei, era realmente pequena e estreita, e o teatro tão procurado ficavaAntic4 muito próximo ao Palácio de Música Catalã, um lindo auditório de música que merece uma visita, nem que seja para ver a arquitetura. Pela porta do teatro, tive a impressão de estar entrando na casa de um amigo. Subindo pelas escadas, você tem duas opções: ou virar a direita onde ficam mesas distribuídas em um espaço aberto, onde muitas pessoas estavam sentadas tomando uma cerveja ou um café, ou a esquerda, onde há um bar dentro de uma casa que naquele momento não havia ninguém, a não ser o barman e mesas vazias esperando para serem ocupadas. Ao fundo, próximo ao balcão, é onde fica a entrada para o teatro.

E como o melhor que podia fazer naquela tarde fresca na capital da Catalunha, pedi uma cerveja e me alojei em uma das mesas do espaço aberto. A sensação de estar na casa de um amigo não tinha me deixado, parecia agora que eu estava no jardim desse amigo esperando ele chegar. Um gatinho amarelo que parecia o Garfield ficava passeando entre as mesas, e demorei a descobrir que na verdade eram dois gatinhos, como se fossem gêmeos.

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No bar eu peguei uma revista com a programação do teatro, e foi assim que eu descobri Antic2que estava sentada em um patrimônio cultural construído em 1650. O Antic, porém, foi fundado somente em 1879, e reinaugurado em 2003. O espaço se define como um centro independente social e cultural, e hoje é referência em performances, circo, clown, música, artes visuais e até literatura. Diante daquela vasta programação o que mais me chamou atenção foi uma exposição que acontecerá nesse verão europeu, do artista inglês Jamie Reid. Ele é bastante conhecido pelos trabalhos feitos, por exemplo, nas capas da banda inglesa Sex Pistols, como em “God Save the Queen”. O preço para ir às performances, exposições, etc, giram em torno de 10 euros, isso quando não é de graça.

Bem no centro da cidade, o Antic Teatre é um lugar para conhecer o que tem de melhor na cultura mundial e principalmente na cultura catalã, que vai muito além de nomes como Salvador Dalí e Gaudí. E ainda nos dá a oportunidade de curtir uma cervejinha num belo lugar enquanto tentamos absorver alguma coisa da mesa ao lado, pois outra coisa que é bem curiosa é essa tal língua catalã.

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Foto: Divulgação no site Antic Teatre

 

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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