Escutar uma boa música, referências da natureza, ouvir uma história bem contada… Cada sensação, por si só, já basta para relaxar o corpo, elevar a alma e expandir o ser. Quando juntas, então, transcendem. Pois é assim, com a união desses elementos, que o grupo Vozes Bugras se apresenta.
O Não Só o Gato foi ao b_arco, numa quinta-feira de Encontros Musicais, conhecer o grupo do qual a Célia Gomes – a contadora de histórias que o site entrevistou – faz parte. Íamos apenas tirar algumas imagens dela, mas conhecer o grupo foi tão incrível que nos obrigou a uma história à parte.
Encantadoras. Cativantes. Para descrevê-las talvez seria necessário juntar alguns dos adjetivos mais doces que a nossa língua é capaz de expressar.
A história do Vozes Bugras começou em 2002, visando o trabalho de “acolher, renovar o sentido de canções, ritos, mitos e lendas que remetem a identidade bugra-cabocla-mulata-mameluca-cafuza brasileira”, como se auto intitulam. O nome do grupo surgiu de um trocadilho com o Mistério das Vozes Búlgaras. Porém, com o tempo, viram que a escolha do nome não foi mero acaso. A denominação “bugre”, dada aos indígenas brasileiros pelos colonizadores, provém do francês “bougre”, referente aos “hereges búlgaros”. “Bugre” era um termo depreciativo utilizado para referir-se a quem considerassem rude ou selvagem. O nome “Vozes Bugras”, portanto, é ideal para o grupo, que tem a intenção de homenagear e enaltecer a nossa identidade.O primeiro CD foi lançado este ano para celebrar os 10 anos juntas, e traz músicas autorais, bem como lendas e tradições das mais diversas.
No dia do show, quando anunciaram o nome do grupo, entraram no palco as sete integrantes – todas com pés descalços, roupas predominantemente verde e branca, sorrisos largos. Lindas. O batuque dos tambores finalmente começou, e junto a eles uma profunda emoção. E espiando ao meu redor, vi que a emoção não era só minha. Todos entraram instantaneamente em profunda sintonia com o ritmo e as vozes. Magníficas vozes. Do tom mais agudo até ao mais grave, cada uma das meninas tem a sua peculiaridade. Enquanto a Ully Costa, a Anabel Andrés, a Dani Lasalvia e a Anunciação revezam entre o canto, o violão e a viola, a percussão fica no mando de Cássia Maria e Lucimara Bispo. A Célia Gomes, nossa contadora de histórias, dá beleza ao show com sua apresentação oral, contando lendas e mitos populares, mas também com a expressão corporal – a dança. Os sons da mata, presentes durante todo o espetáculo, vêm não só dos instrumentos, mas também das próprias vozes das moças. O show é uma grande celebração das nossas raízes, da história, e mais do que tudo, da vida.
Confiram no trechinho abaixo uma parte do show que separamos para vocês curtirem. O primeiro trecho é a música “Ia Cacundê”. Já o segundo a música é de Stênio Mendes, e se chama “Taquará”.
Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato.
Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.
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