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A Versalhes que não é o Palácio

por Fernanda Miranda, 23 de janeiro de 2013
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Assim que nos mudamos para um novo apartamento aqui em Londres, conheci meu novo vizinho Tanguy, um simpático e atencioso francês de Versalhes.  Durante os nossos poucos meses morando juntos, e na maioria das nossas conversas sobre a França, ele me contou sobre os costumes, a comida, o jeito dos franceses, sobre Paris, mas nunca sobre sua própria cidade. E acredito que, assim como para mim, a maioria das pessoas que ouvem falar sobre Versalhes logo pensam no Palácio e nos Jardins construídos pelo rei Luís XIV. E só. E era isso que eu estava esperando visitar no dia em que fomos encontrá-lo em sua cidade natal.

Adolfo Martins | Não Só o Gato

Depois de percorrido os trinta minutos de trem que separam o Palácio do centro do Paris, cheguei em Versalhes sem saber ao certo em qual direção deveria ir, mas foi só seguir o fluxo   – um grande e imenso mar de pessoas – que eu sabia que estava indo para o lugar certo.  Assim que encontramos nosso guia e amigo Tanguy, ele nos perguntou se queríamos entrar no Palácio – pelo valor de 18 euros – ou se preferíamos só visitar os jardins, que é a sua parte favorita. Por falta de interesse em mobílias antigas e palácios, decidimos economizar e ir direto para os jardins.

Achei o jardim do Palácio muito mais bonito do que qualquer foto sugere. Fiquei encantada com o nosso passeio entre os labirintos de árvores, fontes e plantações, e isso mesmo em pleno inverno europeu. O Tanguy reviveu sua infância para a gente enquanto caminhávamos, lembrando seus momentos com seu avô naquele lindo e bem cuidado jardim. Na verdade é até estranho falar “jardim”, porque aquilo que meus olhos estavam vendo era muito mais que isso. Eu estava diante de um imenso parque com lagos artificiais e pessoas se exercitando e curtindo seu domingo com a família. Eu estava em um “jardim” que um dia foi só o quintal de um rei francês. Muito estranho e ao mesmo tempo deslumbrante aos olhos de uma brasileira.

O nosso pit stop foi num café mega charmoso perto do Grand Canal (infelizmente esqueci o nome), e até agora acho uma sacanagem ter conhecido esse lugar, pelo simples motivo de que vou odiar qualquer chocolate quente ou macaron que provar na minha vida depois desses que provei no café-que-não-sei-o-nome. D-e-l-í-c-i-a de viver! Não é a toa que a comida francesa é tão apreciada assim.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Perto desse café fica o Petit Trianon, lugar onde morou a Maria Antonieta. Interessante, mas a grande surpresa do dia não foi a casa dela, mas sim a sua fazenda! A poucos metros da parte de trás da residência já começamos a ver os lagos e trilhas para se chegar lá. E dizem as más línguas que a Maria Antonieta construiu essa fazenda para sassaricar com seus peguetes, mas se isso é verdade eu não sei, mas sei que esse foi o meu lugar preferido em Versalhes, se não a da França que conheci até então.  Primeiro porque é muito curioso pensar que há menos de uma hora de Paris existe uma fazenda, com direito a porcos, burros e uma casinha linda. Segundo que, por ser mais afastada do famoso Palácio, poucos turistas têm acesso ou sabem da existência dessa fazenda, o que faz o lugar ser muito mais prazeroso de se visitar. No dia em que eu fui, por exemplo, não tinha uma pessoa visitando a fazenda além de nós.  E também, como história, é muito legal imaginar a Maria Antonieta frequentando esse mesmo lugar que eu estava vendo com os meus olhos. E como eu estava com saudade de um cheiro de mato e o barulho da natureza. Definitivamente eu jamais iria imaginar que um passeio onde eu estava esperando ver palácios e ouro, acabou sendo o contrário, uma surpresa agradável que tem a ver muito mais com meu gosto. Versalhes ao todo é uma cidade linda, e merece muito mais que uma manhã de visita cronometrada e às pressas. Versalhes é para se admirar, andar devagar olhando e observando os arredores. Versalhes é muito mais que um Palácio.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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