Carnavalizando na Pilantragi
Sejamos honestos: quando falamos de carnaval, São Paulo dificilmente é a primeira cidade a surgir em nossa mente (principalmente, e com todo o respeito, na mente de uma baiana que mora no Rio). A capital paulista é, no entanto, lotada de ótimos exemplos de retomada do espaço urbano (que ironia!), de festas de graça, na rua ou na praça. Nesse ritmo vêm evoluindo seus bloquinhos de carnaval, que passeiam pelas vias da metrópole espalhando certo jeito cosmopolita de festejar!
Aproveitando uns dias livres em SP, lá fui eu curtir o bloco Pilantragi, da festa homônima criada em 2012 por Rodrigo Bento e — até recentemente — alocada no Bebo Sim (eles acabaram de se mudar para o Mundo Pensante). O bang estava rolando no bairro de Perdizes, e acompanhada de amigos “soteropaulistanos” e até do filhote bebê de uma dessas amigas, parti rumo ao movimento. Claro, com maquiagens brilhantes improvisadas junto com adesivos no rosto e uma flor enorme e vermelha no cabelo.
Já chegamos tomando um susto compartilhado com a galera do Coletivo Pilantragi: tinha muita, mas muita gente. A organização esperava cerca de 3.500 pessoas e lá estavam quase 15 mil! Yep, você não leu errado! Todo mundo espremidinho nas ruas principais e vielas do bairro, em torno da Av. Alfonso Bovero. Meus adesivos e o glitter dourado que passei no rosto se perdiam, coitados, em meio a tanta produção legal de gente que levou a sério a tarefa de se fantasiar para o carnaval! O povo tava arrasando nos outfits e, olha, isso é coisa boa de se ver numa festa de carnaval! Parece que fica tudo mais bonito, mais alegre e certamente mais colorido…
O bloco saiu no dia 2 de fevereiro (dia de Yemanjá), o que garantiu muitas pessoas de branco na rua também. Foi a minha primeira vez num bloco de rua paulistano (apesar de já ter curtido muitas festas nas ruas da cidade – o Santo Forte de Rua, por exemplo, eu nunca esquecerei) e fiquei encantada com a energia positiva da galera presente. É verdade que, com muito mais gente do que o previsto, a bandinha não dava conta de levar sua música aos ouvidos mais distantes, mas o gogó da multidão fazia esse favor de, pelo menos, cantar alto as clássicas marchinhas. “Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero…”!
Ah sim, estávamos com um baby a bordo, então ficamos mais distantes da muvuca. E esse foi outro ponto alto da experiência: muitas, mas muitas crianças de todos os tamanhos, felizes e fantasiadas, curtindo o bloquinho na companhia de seus familiares. Aliás, a trupe da cerveja e da pegação (suave, nada de puxões de cabelo) coexistia harmonicamente com essa txurminha. E, nos prédios e terraços de casas, moradores dançavam, acenavam, brincavam e riam junto com a gente. Cena ótima: um mocinho já ia fazendo xixi na rua quando, do além, surge um jato de água bem e apenas em sua cabeça. “Tá chovendo só em mim, gente”? Não, amigo, é que a moradora daquela casa ali acabou de dar uma mangueirada em você, mas tudo na paz, e todo mundo morreu de rir!
Claro, toda aquela gente numa festa de rua ia acabar dando problemas também, e muitos moradores da região se sentiram incomodados com barulho, fedor de xixi e lixo espalhado. Quando cheguei ao local já vi algumas senhoras reclamando da bagunça com seus porteiros. Não demorou muito tempo para a polícia aparecer, já com bombas de gás lacrimogêneo nas mãos (sei lá, não me perguntem), mas acho que não aconteceu nada mais sério (eu, pelo menos, não vi). O Coletivo, por outro lado, teve um comportamento exemplar: fez o esforço de limpar várias das ruas afetadas pelo bloco quando a festa acabou e abriu o diálogo com moradores insatisfeitos no facebook, quase que instantaneamente. Diálogo real, com comentários dos dois lados.
Foto de Alan Viana
Minha conclusão depois de carnavalizar na Pilantragi foi quase romântica, porque eu, nascida e criada no maior carnaval do mundo – e que tem seus VÁRIOS méritos – pude viver um jeitinho muito mais democrático de celebrar a data. Éramos todos juntos e misturados, o clima de paz (tirando a polícia) era palpável, a tolerância era obrigatória, o confete e a serpentina estavam lá, andar com a câmera na mão não era um risco e tudo aquilo era de graça. Porque a rua é nossa pra isso!
Se liga, amanhã (dia 08/02) tem mais, no centro de São Paulo.
Foto de Pedro Américo
Foto de Pedro Américo Foto de Pedro Américo Foto de Pedro Américo
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