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Ciga-nos!

por Adolfo Caboclo, 17 de fevereiro de 2014
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Antes de qualquer coisa, gostaria que vocês escutassem esse som:

Essa é a Orkestra Bandida, banda da qual seus integrantes ajudaram a fazer o som do bloco/cortejo cigano, que rolou ontem sob a democracia da praça Roosevelt.

Antes de falar do bloco em si, queria falar um pouco da carnavalização da paulicéia, já que temos programado para 2014 195 blocos na cidade, simplesmente o triplo do ano passado. Porém, muito maior que a evolução em números, queria destacar a evolução na mentalidade da festa.

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde já faz um bom tempo que os blocos são um fenômeno com uma visibilidade parelha com a do sambódromo, apesar de toda a luxúria da festa, ainda sim, sempre foi possível ver crianças vestidas de Bate-Bola brincando entre os foliões e casais de velhinhos onde senhores maduros usam roupas de mulher. Em um passado paulistano recente eu não via isso. Vi bloquinhos (na sua grande maioria, localizados na Vila Madalena) frequentado exclusivamente por jovens adultos em um clima de “pegação”. Carnaval de rua, por aqui, parecia comercial de cerveja.

O tempo passou e um fenômeno encantador aconteceu: o paulistano, acostumado com festas temáticas alternativas como poucos, passou a trazer esses temas para o seu carnaval de rua. O resultado é que entre os 195 blocos que irão sassaricar por esses dias, muitos tocarão apenas músicas específicas, com temas como, por exemplo, a MPB. Muitos bloquinhos não possuirão a tradição oriunda de clubes de samba e cordões, mas sim de festas “malucas” que fazem parte da noite paulistana. No caso do bloco de ontem, o que se caracterizou foi um cortejo: cheio de som turco, tarantela e música balkan. Nos instrumentos, clarinetes e violinos gritavam e a Cidade Cinza se tornou um reduto cigano.

ciga3Ok, concordo que a presença de crianças que revindiquei no início do meu discurso não era presente no Ciga-nos, que é um lugar fraterno, mas de gente grande. Porém é muito legal ver que a cidade está criando uma identidade carnavalesca pulsante, com uma loucura que não é oriunda nem da cerveja e nem da “micaretagem”. É uma loucura mais profunda, com foliões de olhos pintados, com um rodopiar em rubro e dourado que garoa nenhuma foi capaz de parar.

Também vale comemorar o fato de que o bloco estava cheio, mas não lotado, proporcionando uma farra sem aperto. Sem contar o “apoio” que os coloridos bares da praça Roosevelt proporcionam para foliões sedentos de sede ou apertados para ir ao banheiro. Confesso que, pela primeira vez, tenho minhas dúvidas se fiz um bom negócio ao comprar passagens para ir passar o carnaval no Rio…

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Fotos de Adolfo Martins


 

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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