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Descobertas de quem viaja sozinha pelo mundo

por Fernanda Miranda, 5 de novembro de 2012
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A Audy Veronese é uma mulher cheia de vivências e descobertas. Não à toa, afinal, viaja há muitos anos pelo mundo, e na maioria das vezes se aventura por aí sozinha. Gosto e frequento muito o blog dela, onde podemos ler algumas de suas belíssimas histórias. Hoje, aqui no NSG, ela vai contar uma pra nós sobre uma linda experiência que teve na China.

Por Audmara Veronese

Eu já estive em 32 países e quase todos visitei sozinha. Gosto de pesquisar e planejar o meu roteiro priorizando os lugares que tenho maior interesse em conhecer. Em todas as minhas viagens reservo pelo menos um dia para perambular pela cidade que estou visitando sem compromisso, sem mapa, sem a obrigação de chegar a um determinado lugar. Gosto de me perder pelas ruas e ir fazendo as minhas preciosas descobertas.

Na minha primeira viagem à China, em 2010, inúmeras vezes me deparei com situações inusitadas e curiosas. Em um dia daqueles que saí sem destino pelas ruas de Xangai, resolvi tomar o metrô para me afastar do centro da cidade. Queria conhecer um pouco da Xangai fora do eixo comercial e turístico.
Era um dia ensolarado, fazia muito calor e eu andava lentamente pelas ruas estreitas nas quais eu era a única ocidental. Gostava dos olhares curiosos e atentos das pessoas que passam por mim, e dos sorrisinhos marotos das crianças sempre que cruzavam com meus olhos azuis e nariz romano.

Pela vitrine de uma pequena loja de conveniência vi um congelador com sorvetes. Entrei na loja e logo percebi a agitação dos vendedores que sorriam para mim. O meu mandarim era quase inexistente, sabia apenas algumas palavras que não me permitiam fazer qualquer pergunta sobre o picolé que eu queria comprar.Não havia a menor possibilidade de eu conversar com os vendedores e na embalagem do picolé todas as informações eram em chinês. Escolhi o sabor a partir da foto que mostrava um picolé metade verde e metade marrom escuro. Pensei que aquela combinação só poderia ser sabor pistache e chocolate.

Assim que mordi a parte verde do meu picolé, o gosto estranho e agridoce na boca não lembrava em nada pistache. Mordi novamente e prestei atenção naquele sabor desconhecido até que descobri que o “verde”do meu picolé era ERVILHA. Já o que eu pensava que era chocolate, na verdade era feijão doce, igual ao manju ou outros recheios de docinhos japoneses. Procurei uma muretinha na rua para me sentar, rir de mim mesma e me deliciar com o picolé mais exótico que eu já tinha provado.

Na China as experiências gastronômicas são sempre surpreendentes. Entretanto, a lição mais importante dessa situação não foi necessariamente a descoberta de um picolé de ervilha e feijão doce, mas sim a constatação do meu “pré-conceito” tão frágil quanto uma dentada num sorvete.
Viajar não é apenas descobrir lugares, é também “se descobrir”, conhecer a si mesmo da forma mais íntima e profunda.

Fernanda Miranda

Recém-formada em jornalismo e editora do Não Só o Gato. Ama história em quadrinhos, os textos da jornalista Eliane Brum, as trilhas sonoras dos filmes do Woody Allen e azeitonas.

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