Mais de mil brinquedos no Sesc
Essa semana inaugurou a exposição “Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira” no Sesc Pompéia, em São Paulo. Eu fui, e quando sai de lá, contagiada pelo clima, estava ansiosa em encontrar meus pais, que estavam voltando de viagem, para contar sobre o que tinha visto e perguntar à eles quais foram os brinquedos de sua infância. Por sorte, meus pais estavam acompanhados da minha avó, que nasceu na década de 20, e das minhas priminhas (que já não são tão “inhas”) nascidas no final de 90. Acredito que as respostas que escutei de todos eles dizem um pouco da realidade da infância brasileira de cada geração. Minha avó, filha de imigrantes que vieram para o Brasil com a intenção de fugir da Primeira Guerra Mundial, fez de espigas de milho a sua boneca. Ela contou que minha bisavó enfeitava as espigas com trapos de pano – virando uma roupa improvisada na boneca. Minha mãe, quando criança, também usava da imaginação para criar brinquedos. O medidor que vinha dentro do leite em pó se tornava uma panelinha, e a distração da minha avó ao quebrar uma louça era a alegria das filhas, que usavam os cacos quebrados para brincar de casinha. Já a infância do meu pai foi rodeada por pipas, bolinhas de gude e piões. A geração das minhas primas brincou de Barbie e casinha de boneca – assim como eu. E essa nova geração, está brincando de quê?
O nome da exposição diz “mais de mil brinquedos”, mas na verdade, são mais, muito mais do que mil. O número ultrapassa os seis mil brinquedos. Em clima de comemoração de 30 anos da unidade Pompéia do Sesc, a exposição homenageia a mostra “Mil Brinquedos para a Criança Brasileira”, apresentada no ano de inauguração desse complexo. A mostra atual reúne parte dos brinquedos expostos a 30 anos atrás, além de peças particulares, artesanais, eletrônicas e algumas feitas pelas próprias crianças.
Diante de tudo que eu vi lá, tive a certeza de que a mostra não é só para a “criança brasileira”, a criança de hoje, mas para a criança que ainda é o meu pai, minha mãe, minha avó, eu, nós – mesmo que quase nunca nos lembremos disso. Grande parte dos brinquedos que estão expostos na unidade são difíceis de se ver na mão de um pimpolho hoje em dia. Já na entrada, vi uma mesa coberta de piões das mais diversas formas e cores, e logo percebi que aquilo exposto era uma homenagem à criança que é meu pai, meus tios e todos aqueles que veem naquele objeto a sua infância. E também que, assim como minha avó, muitas mulheres já brincaram de espiga de milho como boneca. Lá na exposição havia inúmeras espigas com roupinhas, algumas até com peruquinhas para incrementar como cabelo da boneca. Nessa parte da mostra, reparei que realmente qualquer objeto pode virar divertimento nos olhos de uma criança, quando vi pedaços de ossos também utilizados como boneca. O brinquedo mais antigo exposto é datado de 5 a.C, uma bonequinha grega feita de barro – que também estava na mostra de três décadas atrás.
Nesse galpão cheio de brinquedos, não me vi criança com os lindos bonecos animados movidos por motor do Mestre Molina (embora tenha me encantado muito com a delicadeza de sua obra), nem na parte de aviões e das naves do Star Wars (a excitação ao ver essas naves ficou a cargo do meu namorado), mas me vi criança quando cheguei na seção das bonecas. Uma das grandes sacadas dessa exposição é mostrar determinado brinquedo pronto, mas ele também desmontado. Na seção de bonecas, por exemplo, havia uma fabriquinha, onde, de um lado, estavam as partes das bonecas separadas, e no outro, elas prontas, com roupa e tudo. Inclusive, com o brinquedo da personagem Arara Azul, do filme Rio, reproduziram até o processo de pintura das peças de plástico, que é muito delicado e feito a mão, diferente da maneira que a gente imagina que elas sejam feitas. Ao mostrar para as crianças que há todo um processo por trás da construção de cada brinquedo está se valorizando essa peça, e mais, mostrando que ela é única, portanto, especial. Achei essencial essa pequena parte da mostra que é tão importante frisar neste mundo onde crianças já são consumidoras vorazes desde sempre.
No meio do meu passeio, andando por entre os brinquedos, conheci a Maíra, moça que trabalha no Sesc. Depois de um longo e gostoso papo sobre a nossa infância, eu contei sobre o blog e ela acabou nos fazendo uma visitação guiada. Vimos várias coisas interessantes que passaria despercebido se não fosse ela, como uma boneca da Mônica exposta que foi a primeira feita da personagem há 50 anos. Em determinado momento da visita, ela falou: “Uma das idéias da mostra é unir gerações”. Acho que é isso. E foi assim que eu me senti ao ver um lugar cheio de pessoas de todas as idades, onde inicialmente eu só esperava crianças. Na verdade a exposição é para nós, crianças, mas as de todas as idades – das pequenas até as mais velhinhas.
Para uma visitação guiada ligue no (11) 3871-7700, ou mande e-mail para agendamento@pompeia.sescsp.org.br
A entrada é gratuita e estará exposta até o dia 2 de fevereiro de 2014, não perca!
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