Quintas Dancehall em Salvador
Numa noite quente de verão em Salvador, em plena quinta-feira, qualquer um já se daria por satisfeito ao encontrar uma boa cerveja seriamente gelada num boteco qualquer. Mas é verão, afinal, e eu estava na minha última semana de férias na minha terra natal pra deixar de caçar um bom programa que me permitisse fazer valer os dias ali, naquele bafo quente soteropolitano. E foi assim que surgiu o convite pra o Quintas Dancehall.
Essa, na realidade, já é uma noite consagrada da cena noturna baiana que eu falhei em curtir de verdade, porque fui viver em São Paulo bem na época em que a festa começou a bombar. Pois bem, depois da clássica cerveja de esquenta na Dinha, ali no Rio Vermelho, partimos pro baile de reggae dançante no Sunshine Bar (antigo e inesquecível Idearium, onde passei muitas tardes e noites da minha adolescência vendo shows de rock com os meus amigos).
O Dancehall passeou por outras casas de Salvador antes de chegar ao Sunshine, e é promovido pelos caras do Ministereo Público, que sempre recebem convidados, promovem sessões de open mic e excitam a pista com uma seleção impecável de sons, por lei inspirados nos bailes jamaicanos (mas sem perder a personalidade e o toque de baianidade nagô). A energia do lugar é forte, intensa mesmo, nem precisa entrar pra perceber, mas lá fomos nós.
O som caliente que invadia meus ouvidos não me permitia ficar parada. Lá dentro, o bicho estava pegando e o ar condicionado não dava conta, o suor pingava de quem se atrevia a rebolar na pista – o que significa praticamente todo mundo. As pessoas vão à festa pra dançar e rebolar como se não houvesse amanhã! E lá fui eu, fazer o mesmo. Aliás, além do Ministereo Público representar muito bem nos vinis e no sound system, a plateia também é digna de atenção: uma galera que humilha nos passos de dança, no estilo e na presença.
Em meio a tanto calor, suor, cerveja e dança, me peguei pensando que bonita manifestação era aquela, em plena cidade mais negra do Brasil. Sim, porque o Dancehall é também uma celebração da cultura negra de dar gosto, que acolhe a todos, faça chuva ou faça sol – até este espalhar seus primeiros raios pelo céu. Curti tudo que aguentei das batidas roots de reggae, ragga, dub, dancehall e jungle e fui embora com uma certeza: taí um programa imperdível pra os amantes de uma boa música com vontade de se acabar de dançar! Cheguem lá!
Comentários