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Guilty Pleasures – Uma noite sem culpas

por Adolfo Caboclo, 26 de novembro de 2012
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Fernanda Miranda | Não Só o Gato

O homem, como todo animal de olhos para frente, – como o leão e a águia – é um predador. Como todo predador, possui uma inclinação enorme para hábitos noturnos. Na noite é possível ver o bicho homem em seu estado natural. O alegre, o chato, o tarado, o apaixonado, o briguento, o viciado, o maldoso, o amigo, o infeliz – todos, absolutamente todos são desmascarados.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Em uma vida que é refinada por “renascimentos”, inícios e fins de ciclos, a noite aparece como a forma mais rápida de se expressar, descarregar ou absorver “demônios”, e no dia seguinte, cheio de ressaca, se sentir mais humano do que nunca, pronto para um novo “nascer”. Na noite somos coerentes com a nossa verdadeira natureza, cometemos “pecados” e no dia seguinte de manhã, no trabalho, seguimos nossa vida tão “correta”. Hoje vou falar da festa “Guilty Pleasures”, no bom português, falarei de uma festa de “prazeres culposos”.

Descobrimos a festa através do desejo de apresentar para um casal de amigos da República Tcheca a balada mais legal que eu conheço. Uma casa especial já pelo bairro, Camden Town, no norte de Londres. O bairro onde Amy Winehouse era encontrada amiúde farreando, e o local que em 1900 inaugurou The Camden Theatre, com capacidade para quase 3 mil pessoas e, hoje, este mesmo teatro que virou a casa noturna Koko.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Por volta da meia noite de sábado desci do metrô, atravessei a rua e entrei na imponente balada. Bem na entrada fui pra chapelaria e vi que meus amigos tchecos estavam na fila entre um cara fantasiado de Sooby Doo e um casal de piratas. Foi o momento que achei coerente uma festa de “libertação” ter algumas pessoas fantasiadas. Guardamos nossos muitos e pesados casacos e entramos no salão. Assim como eu e Fernanda a alguns meses atrás, o tchecos não acreditavam no local que entravam, ficaram boquiabertos com tudo: com a altura da casa, suas estátuas, com os detalhes tão nobres em dourado espalhados por paredes vermelhas, pela acústica de um teatro adaptada com maestria para uma boa noitada.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Em dois momentos da minha primeira hora de festa virei as costas para a minha namorada, apenas por alguns instantes, e foi o suficiente para algum gringo safado serelepe cortejá-la, em ambas as vezes estufei prontamente o peito, segurei o braço do fogoso rapaz e escutei milhões de desculpas. Entendi que se tratava de uma festa com muito libido e nenhuma violência, só paz e amor. Longe da minha morena, por favor!

No palco fomos regidos por uma DJ com uma peculiar alegria. Peculiar plastic pill? Maybe.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Entre o rock e o pop dos anos 80 e 90 curtimos, dançamos pra valer, e em um determinado momento foram jogadas dezenas de enormes bolas, cada uma de uma cor, que a multidão espalmava para o alto formando um efeito sensacional. Como as pessoas se divertiam, como as risadas eram sinceras, porém estas tinham um break mais ou menos a cada hora quando entravam alguns dos personagens da festa para fazer uma performance. O que antes eram risadas, se tornavam gargalhadas.

As personagens poderiam ser um trio, – vestido de mestre de construção, com capacetes purpurinados, sungas e com uma enorme e peluda barriga de fora – ou duas divertidas meninas vestidas de rainha vermelha do País das Maravilhas, ou até mesmo um bebê monstruoso – um cara enorme de fraldas com uma máscara que lembrava o vilão amarelo de Sin City. Era um território que o chato chamaria de bizarro, o mascarado chamaria de loucura e o homem da noite não chama, simplesmente dança. Dança, como a vida pede, como meus sempre envergonhados amigos tchecos terminaram a noite suados e aos beijos na pista, e também como a voz de Fredie Mercury sugeriu para todos na pista do Koko neste sábado: “Don’t stop me now“.

Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato
Fernanda Miranda | Não Só o Gato

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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