Feira de Antiguidades da Praça XV
Sempre vi algo de especial nos mercados de rua, talvez por conta do clima descontraído, dos achados imprevisíveis e da simpatia das pessoas. Os de antiguidades, em particular, se destacam por conta de uma coisa: As histórias. Existe um quê de mistério e de descoberta no repertório de cada objeto e de cada pessoa que trabalha ali, resgatando e mantendo viva a história de tantas gerações.
Uma das principais feiras de antiguidades do Rio de Janeiro é a feira da Praça XV, no centro da cidade. Seu início data dos anos 70 e naquela época ela funcionava através de escambo. A feira reúne mais de 350 barracas oficiais e é considerada a maior feira de antiguidades da América Latina, funcionando das 8h às 14h, todos os sábados.
Se ela é realmente a maior feira da América Latina, eu não posso afirmar, mas a diversidade e abrangência de artigos que ela reúne, com certeza a posiciona entre uma das mais interessantes. Daquelas que envolvem pessoas de todas as idades e que promovem uma verdadeira volta ao passado.
Em duas horas de passeio, fazendo um garimpo visual encontrei vários objetos interessantes e explorei as barraquinhas tranquilamente. Diferente da feira de antiguidades do Lavradio, que acontece no primeiro sábado do mês, ela não fica tão cheia e se concentra mais em reunir antiguidades, do que produtos novos e mais caros.
A primeira parada foi uma barraca de artigos de guerra. Gostei bastante de uma coleção de espadas decorativas. Réplicas de espadas famosas de filmes e da época medieval. Tinha até a espada do William Wallace, protagonista do filme Coração Valente, clássico dos anos 90. Outro achado foi uma baioneta, relíquia original da Segunda Guerra. A baioneta é uma espécie de punhal adaptável à boca do cano de armas de fogo. O vendedor e colecionador, dono da barraca, super gentil, torna o garimpo ainda mais curioso, dando uma aula de história e informação sobre cada objeto.
Mais a frente, encontrei uma barraca vendendo rádios antigos de diferentes modelos e épocas, todos funcionando. O mais antigo era um Spica de 1958, em estojo de couro marrom, um dos primeiros radinhos de pilha a chegar no Brasil, importado do Japão. Além de rádios, a feira também apresenta uma grande variedade de câmeras fotográficas, roupas, revistas, brinquedos, peças de decoração e mais um monte de objetos inusitados das mais diversas categorias.
Entre um Pense Bem da Tec-Toy, um Genius novinho em folha, uma revista com a capa do Tarcísio Meira e da Glória Menezes, em início do casamento, com a manchete ‘Glória e Tarcísio, unidos pelo adultério’ e uma coleção de chapinhas de cerveja, encontrei uma edição do jornal O Pasquim. O jornal foi um forte instrumento de combate à censura da ditadura militar e marcou época reunindo grandes nomes como Millôr Fernandes, Jaguar e Ziraldo. Eu nunca tinha visto um exemplar. Deu vontade de levar pra casa.
Com as obras da demolição do viaduto da Perimetral já em curso, os feirantes afirmam que a feira vai se mudar para a praça vizinha, do Paço Imperial. Resta saber se ela continuará mantendo sua essência, com o clima intimista e encantador, que ela possui até hoje. Espero que sim, e que a operação urbana do Porto, potencialize a cultura local, sem transformar sua essência que também é baseada no improviso. Que as mudanças venham, mas que as histórias prevaleçam.
Fotos por Fernanda Sigilião
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