Quando eu falo que amei Belo Horizonte, eu falo de forma absolutamente verdadeira. A grande maioria das memórias da minha viagem fazem o meu coração sorrir — e meu fígado chorar. Mas como nem todo amor é perfeito, também existem as coisas feias, horrorosas da cidade. Vou usar o Mercado Central belo horizontino como exemplo da minha história de paixão e decepção.

Assim como, para mim, se BH fosse uma pessoa — ela seria uma mulher, alta, solteira, com seus 30 e poucos anos, amante do botequim e trabalharia com RP (por que RP? De onde eu tiro essas coisas?) —, e também, se BH fosse um animal — seria um galo (calma cruzeirenses, juro que não estou pensando em futebol), forte, cheio de vida, porém, calmo —, pelo menos na minha cabeça, se BH fosse um lugar, este seria o seu Mercado Central. Possivelmente não sou só eu que pensa assim: no próprio site do mercado eles se apresentam falando que “tem coisas de Minas que, reunidas, só se vê no Mercado Central de BH!”. E é assim mesmo. Lá tem”queijim” de tudo quanto é tipo e sabor. Ervas, cereais, frutas, legumes e temperos para todas as receitas de norte a sul do Brasil. Também tem flores, cores, licores e sabores que, segundo o site, “encantam a alma e o coração”. Lindo! Imagina essa frase sendo falada com o “miudim” sotaque mineiro.

O mercadão tem uma infinita gama de queijos e outras inúmeras “mineirices”, como a efervescência cultural que são as pessoas tomando sua cervejinha e petiscando o tradicionalíssimo jiló com fígado do local — e, como a maioria fala, “eu não gosto nem de jiló, nem de fígado, mas os dois juntos, ‘fritim’, no mercadão é ‘bão’ de mais!” Detalhe que a parte etílica não para por aí! O lugar tem infinitos rótulos de cachaça, desde as que custam centenas de reais, como a Havana (a partir de R$ 400,00) e a Anísio Santiago (R$ 260,00), até as com preços mais populares, oriundas dos infinitos alambiques do estado.

Outra coisa “mineiristicamente” apaixonante do local (não vou nem falar dos doces de leite. É redundante. Infinitos tipos, um mais gostoso e gordo do que outro) são os objetos que vendem no mercado. Muitas lojinhas de arte sacra, com imagens belíssimas e muitas lojas com bules e xícaras de agata.

Mas, como não existe paixão sem decepção, minha curtição acabou quando passei pela parte dos animais (e não estou falando dos que estavam presos).

Os coelhos, cachorros e codornas engaiolados, por si só, já quebraram toda a atmosfera do lugar. Quando fui tirar uma foto, um cara que trabalha lá falou “você não pode fotografar aqui não”. Este foi o momento em que eu apurei o meu olhar e percebi que nas gaiolas também existiam pássaros silvestres, ou seja, ilegais, como por exemplo alguns coleirinhas (tá, pode ser criação doméstica, mas como eu fico puto com essas coisas escrevo de forma tendenciosa MESMO) e também muito galos, visivelmente destinados para a prática de rinha. Foi aí que eu entendi que ter passarinho e fazer rinha de galo também fazem parte da tradição mineira, e por isso que não tenho dúvidas que toda paixão, traz consigo algumas decepções.

Independente do quão agradável foi estar no Mercado Central, a última coisa que me veio na mente de lá, foi a conversa de dois caras que comentavam sobre os atributos de um galo que estavam vendendo.  Pelo menos acho que fiquei com um pouco do que tem de melhor da cidade. Falo isso porque, enquanto escrevo, estou comendo um dos melhores doces de leite da minha vida. Enquanto tento, de forma superficial e irresponsável, relatar o que tem de bom e denunciar o que me parece muito errado.

Fotos por Adolfo Martins

Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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